Juliano Moreira, o fundador da psiquiatria brasileira

Já ouviu falar em Juliano Moreira? Ele foi um dos primeiros médicos negros do Brasil, responsável por uma revolução na Psiquiatria no nosso país.

Os registros do início de sua vida não são muito precisos. Sabe-se que Juliano nasceu em Salvador/BA no dia 6 de janeiro. O ano? 1872 ou 1873, não há consenso entre os pesquisadores. De todo modo, a escravidão ainda existia. 

Sua mãe era Galdina Joaquina do Amaral, uma mulher negra que trabalhava como doméstica na casa do Barão de Itapuã. Não se sabe ao certo se Galdina era escravizada ou se já tinha sido alforriada. O fato é que o patrão, que era médico e professor da Faculdade de Medicina da Bahia, tomou o menino como afilhado e o incentivou a estudar. 

Disciplinado, curioso e determinado desde pequeno, Juliano seguiu os passos do padrinho. Entrou na Faculdade de Medicina bem novinho – com 13 ou 14 anos – e formou-se cinco anos depois, em 1891.

Em 1896, prestou concurso para professor substituto da faculdade onde tinha se formado, na área de doenças mentais. Foi aprovado em primeiro lugar. Ali começaria a sua história como o fundador da disciplina psiquiátrica no País. Começaria, também, sua história de luta contra o racismo científico.

Racismo científico?

É isso mesmo. Naquele tempo, havia quem acreditasse que negros e indígenas eram inferiores a brancos – e, pior, que ainda dizia ter provas científicas disso! Era o caso de Raimundo Nina Rodrigues. Colega de trabalho de Juliano, o professor e médico maranhense afirmava que os não-brancos tinham mais chances de desenvolver doenças mentais. E mais: que a miscigenação era a causa de degeneração do povo brasileiro. 

Em toda a sua carreira, Juliano rebateu essas ideias equivocadas, que não passavam de preconceitos raciais. Para ele, as causas das doenças mentais estavam mais relacionadas às condições sanitárias e educacionais.

O alienista

Alienistas: assim eram chamados os médicos que tratavam pessoas com doenças mentais, os ‘alienados’. Embora tenha desenvolvido trabalhos importantes até na área de dermatologia, foi como alienista que Juliano se consagrou.

Em 1903, assumiu a direção do Hospício Nacional de Alienados, no Rio de Janeiro. E começou uma verdadeira revolução na forma de cuidar dos pacientes psiquiátricos. Aboliu o uso de coletes e camisas de força, mandou tirar as grades das janelas dos quartos dos internos e começou a incluir, como parte do tratamento, atividades manuais e artísticas.

Mente brilhante, saúde frágil

Juliano Moreira foi um membro muito ativo e reconhecido da comunidade científica, dentro e fora do Brasil. Participou de inúmeros congressos internacionais, foi presidente da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Medicina e fundou a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins. 

Por dedicar-se tanto ao trabalho e às pesquisas, acabou negligenciando a saúde. E a tuberculose crônica, que o acompanhou por muitos anos, piorou muito. Precisou se licenciar várias vezes – por sinal, conheceu sua esposa, a enfermeira alemã Augusta Peick, em um sanatório no Cairo, onde ele se internou para tratar a doença. 

Juliano faleceu de tuberculose em 2 de maio de 1933. Mas há de permanecer vivo, inspirando quem conhecer a sua história.

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