Todas as línguas do Brasil

Ilustração. O fundo é composto por linhas rabiscadas que formam a bandeira do Brasil, mas em tons claros. Na frente do fundo, Zé Plenarinho aparece dos ombros para cima. Ele sorri e está com a língua para fora. A língua está pintada com a imagem da bandeira do Brasil.

Aqui no Brasil, são faladas tantas línguas que talvez você nem imagine! Hoje, são mais de 200!! Isso porque o nosso país é o resultado da mistura (algumas vezes pacífica, outras não) de diferentes povos. Portugueses, espanhóis, franceses, alemães, holandeses, italianos, árabes, japoneses… Os povos indígenas, habitantes originais desta terra, como os Guaranis, ianomamis, xucurus, baniwas, tikuna… E os africanos que também foram muitos: bantos, naôs, gêges (ou ewes)… Todos estes se misturaram e formaram o povo brasileiro. Com tantas origens diferentes, seria difícil falar uma língua só, não?

Línguas, dialetos, sotaques

Para se comunicar, o ser humano precisa de uma linguagem. A língua, meio usado para a comunicação, é um sistema de símbolos usados por pessoas de uma mesma comunidade. A língua de um povo é o que caracteriza de forma mais profunda a sua identidade. Por meio dela, é possível conhecer sua história, sua forma de entender e sentir o mundo. A língua também permite a transmissão de conhecimento, da arte, da cultura, da religião.

Mas mesmo quando se fala uma única língua, há diferenças entre as regiões que acabam usando palavras e expressões variadas. Quando elas não impedem a comunicação, são chamadas de dialeto. Assim, o que se fala no Rio de Janeiro é um dialeto, como é um dialeto a língua dos que vivem em Porto Alegre e assim com praticamente todas as outras comunidades de falantes de português no Brasil. Cada uma delas fala português, mas um português um pouco diferente do outro.

Quando as variações impedem ou dificultam consideravelmente a compreensão, então estamos falando de línguas diferentes. Por exemplo, o português e o alemão. Eles são tão distintos, que, se um brasileiro que nunca estudou alemão for para a Alemanha, vai ficar perdidinho. Um alemão que não estudou português também não vai nos entender.

E aquela diferença no jeitinho de falar?! “Porrrta”, “oitennnta”, “paixtel” (pastel), “pãozin de quej” (pãozinho de queijo)… São os sotaques – características de pronúncia de um dialeto (variedade regional ou social de uma língua), percebidas por falantes de outro dialeto.

Viva a multiplicidade

O Brasil é o país com o oitavo maior número de línguas em uso!!! A maioria delas é das comunidades indígenas: 180! Você acha muito? É realmente muita coisa, mas, na época do Descobrimento, havia muito mais. Eram 1.078. Já pensou?

Em 1550, chegaram muitos negros vindos da África. Eles não vieram por vontade própria, chegaram escravizados, trazidos à força. A escravização trouxe para o Brasil aproximadamente 3 milhões de africanos e, com eles, muitas culturas e línguas.

Não podemos esquecer do italiano, alemão e japonês. Eles vieram ao Brasil como imigrantes, em busca da oportunidade de uma vida melhor. Esses povos chegaram em maior número a partir do ano de 1800. Antes disso, já estavam por aqui portugueses, espanhóis e holandeses.

Somando isso tudo, o resultado é um povo diverso, que fala, entre tantas outras línguas, o Nheengatu, o Hunsruckisch e a Gira da Tabatinga.

Nheengatu?

Lá em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, vive o povo indígena Baniwa. A primeira língua que se aprende por lá é o Nheengatu. Essa língua tem uma história muito interessante. Ela foi criada pelos missionários da igreja, na época da colonização, responsáveis por catequizar os índios. Eles queriam que houvesse uma única língua indígena para todos os povos de modo a facilitar a comunicação. Foi assim que surgiu o Nheengatu. Hoje, cerca de duas mil pessoas falam essa língua no Brasil.

O Hunsruckisch (que nome difícil!!) é falado por parte da população do Rio Grande do Sul. É uma mistura de Alemão e Português e resulta da chegada dos alemães na região, em 1924.

A Gira da Tabatinga, língua dos filhos, netos e bisnetos de escravos, ainda é falada no nosso país. Ela foi passada de pai para filho e é uma importante forma de resistência da cultura africana.

As línguas não podem morrer

Para que as línguas existam, elas precisam ser faladas. Mas os números de hoje não são nada otimistas: a cada duas semanas, uma língua morre no mundo! E pior: segundo dados divulgados pelo professor de Linguística da Universidade de Roma, Renato Coretti, durante o 87º Congresso Mundial de Esperanto, realizado no Brasil em 2002, cerca de 90% das 6 mil línguas que existem atualmente não serão mais faladas nos próximos 100 anos.

Na África, 600 das 1.400 línguas estão ameaçadas de desaparecer em razão da pressão das grandes línguas. Na Austrália, apenas 20 línguas sobrevivem ao lado das 250 línguas faladas até o final do século XVIII (de 1701 a 1800). Em muitos países da América do Sul, os governos esperam que os 275 idiomas não-oficiais desapareçam antes que se tornem idiomas de ensino oficiais. Hoje, no Brasil, uma longa lista de idiomas indígenas e africanos não são mais falados.

Uma única língua?

Vários governos brasileiros não deram importância à diversidade de línguas do Brasil e tentaram implantar aqui uma só língua, o português, ignorando milhares de falantes e reprimindo a manifestação de várias culturas. O primeiro que agiu assim foi Marquês de Pombal, que governou o Brasil de 1750 a 1777. Pombal queria que o Brasil tivesse apenas uma língua e proibiu que outras fossem faladas.

Na época da Segunda Guerra Mundial, durante o governo de Getúlio Vargas (1937-1945), várias línguas também foram proibidas: o Talian (língua de origem italiana), o Pomerano (língua parecida com o alemão, falada num país chamado Pomerânia) e o Hunsruckisch (aquela língua que mistura o Português com Alemão, lembra?).

O governo militar (1964-1985) proibiu a transmissão radiofônica em línguas indígenas e estimulou programas educacionais voltados para o uso da língua portuguesa, substituindo a indígena. Só com a Constituição de 1988 foram reconhecidos os direitos linguísticos dos povos indígenas, inclusive o direito de ter programas de educação em suas próprias línguas.

Curiosidades

Quer ver como o Português é uma língua rica, resultado da contribuição e mistura de vários povos? Lá vai o desafio: de onde vêm as palavras “cutucar”, “bagunça” e “cochilar”?

Resposta: “Cutucar” vem da palavra kutúk, que em Tupinambá (uma língua indígena) significa tocar com objeto pontudo, ferir.

E “bagunça”? Mesmo não sabendo de onde vem, com certeza você sabe como fazer, não é? Pois fique sabendo que “bagunça” vem da palavra bulungunza, que em Quicongo (língua africana) é nada mais, nada menos que desordem, confusão. E “cochilar” também vem do Quicongo: kushila quer dizer dormir levemente.

Texto publicado originalmente em 2006.

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

Comente!

Seu endereço de email não vai ser publicado. Campos marcados com * são exigidos