Aclamação de Dom João VI – uma festa que encantou o Rio de Janeiro

Aclamação de D. João VI

Imagine o Rio de Janeiro em 1818. A família real morava há 10 anos em terras brasileiras, o Brasil já tinha sido declarado Reino do Brasil em 1815. Dom João tinha trazido para o Rio de Janeiro um tanto da cultura e do requinte das cortes europeias.

Em 1816, a mãe de Dom João morreu, deixando o trono de Portugal aberto para ele. Deveria haver uma cerimônia para que ele realmente tomasse posse do trono.

Os portugueses queriam que Dom João VI voltasse para a Europa para ser aclamado em Lisboa, mas, contrariando a vontade de seus conterrâneos, ele decidiu que seria aclamado rei aqui, no Rio de Janeiro, em 1818. A decisão de Dom João em fazer a cerimônia no Brasil deixou os portugueses insatisfeitos, ao mesmo tempo que foi um símbolo da grande importância do Brasil na corte portuguesa.

Então, no dia 6 de fevereiro de 1818, grandes festejos aconteceram na aclamação de D. João VI como Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, d’Aquém e d’Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.

Ufa! Que nome grande! E os festejos foram proporcionais ao nome. A corte preparou uma festa como nunca se tinha visto e foi impressionante para a população que acompanhou a cerimônia.

Os preparativos para a aclamação

Diziam que Dom João VI não gostava de esbanjar dinheiro com suas despesas pessoais. Mas, na hora de planejar a cerimônia de aclamação, o rei decidiu fazer uma grande festa e não poupou recursos.

O local escolhido para sediar o evento foi o Terreiro do Paço (ou Largo do Paço), no centro do Rio de Janeiro, área de grande importância para a cidade. Para permitir a visão da cerimônia por parte das pessoas que estavam de fora, foi construído um grande anexo, chamado de varanda.

A cerimônia de aclamação

A cerimônia começou repleta de cortejos de membros da nobreza e figuras como Meirinho Mor, Capelão Mor, bispos e oficiais da Casa Real. Tudo cheio de pompa, riqueza e rituais, diante de uma grande multidão que se aglomerava no terreno do Paço. Lá também foi erguido um obelisco. Foram construídos outros monumentos, como um arco do triunfo e um templo grego, consagrado a Minerva.

Claro que a música não poderia ser deixada de lado: Na entrada da varanda se encontravam os menestréis (os músicos), que tocavam instrumentos como charamelas (instrumentos de sopro), trombetas e atabales.

O rei chegou à varanda aclamado pelo povo, com traje bordado a ouro, manto real de veludo carmesim e chapéu de plumas.

Dentro do Paço, ele recebeu o cetro, sentando-se no trono sob um rico dossel. Portugal não tinha a tradição de coroar seus reis. Eles eram alevantados, ou aclamados. A coroa era apenas um símbolo, e os reis portugueses não usavam coroa, sendo o cetro o objeto que definia a realeza portuguesa.

O juramento do rei foi o seguinte: “Juro e prometo com a graça de Deus vos reger, e governar bem, e direitamente, e vos administrar direitamente Justiça, quanto a humana fraqueza permite; e de vos guardar vossos bons costumes, privilégios, graças, mercês, liberdade, e franquezas, que pelos Reis Meus Predecessores vos foram dados, outorgados, e confirmados”. Os dois filhos do rei, Dom Pedro e Dom Miguel, também fizeram juramentos e beijaram a mão do pai.

O povo comemora o novo rei

Sinos tocaram e fogos de artifício soavam do lado de fora do palácio. Negociantes iluminavam seus comércios com milhares de lampiões. A população dos trópicos nunca tinha presenciado nada tão suntuoso. Depois, o rei se mostrou aos súditos pela primeira vez após o juramento.

Segundo dia de festejos

O Campo de Sant’ana foi palco do segundo dia de festejos populares. Os soldados fizeram evoluções, assim como os dançarinos do Real Teatro, além de terem sido promovidas corridas de touro.

Lá foram construídas 102 pirâmides luminosas. Dom João procurou corresponder os festejos concedendo perdão para vários acusados das insurreições de Pernambuco de 1817, aposentadoria para antigos servidores públicos, o tratamento de Senhoria aos membros do Senado da Câmara do Rio de Janeiro.

No Brasil, a cerimônia foi alegremente vivida, tendo repercutido em festas por todo o reino do Brasil por até oito meses.

Fontes:

  • Servir e celebrar o rei: o cerimonial de aclamação de D. João VI e a Casa Real Portuguesa no Rio de Janeiro – GIOVANNA MILANEZ DE CASTRO
  • João VI – Um Príncipe entre dois continentes – Jorge Pedreira e Fernando Dores Costa
  • Texto “Duzentos anos de Independência – 2018 – Duzentos anos da Aclamação del Rey D. João VI. Passos para a Construção da Nação”. Texto base para os eventos relacionados aos festejos na Câmara dos Deputados – 2018. José Theodoro Mascarenhas Menck.
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