Ter um filho é uma grande responsabilidade. Quando isso acontece na adolescência, o desafio é ainda maior.
Neste texto, a Turma do Plenarinho lança o olhar para aquelas mães ainda meninas que, tendo engravidado com pouca idade, acabam se diferenciando um bocado das mulheres que planejaram ter filhos ou que, mesmo sem planejar, só tiveram bebês quando já estavam na fase adulta.
Apoio psicológico
Diariamente, Alessandra Arrais atende muitas grávidas. Ela é psicóloga hospitalar e professora da Universidade Católica de Brasília e conta que a gravidez, em si, é uma fase que merece muitos cuidados. Quando a futura mãe é uma adolescente, então, as atenções precisam ser maiores. “Ao ser mãe, você passa de alguém que é exclusivamente filha e cuidada para alguém que também vai cuidar. Uma pessoa de 14, 15 anos, ainda está na fase em que precisa ser cuidada e, com uma gravidez, fica psiquicamente sobrecarregada”.
Alessandra ressalta ainda que, na prática, a maternidade significa uma transição muito difícil para as adolescentes: “Junto com isso, a questão da vida conjugal também causa sofrimento. Normalmente, o pai não assume a criança e, muitas vezes, também é um adolescente com igual falta de preparo para ter filho”. A psicóloga chama seu trabalho com as grávidas de pré-natal psicológico – uma importante arma para combater a depressão tão comum entre as adolescentes grávidas e diminuir os riscos de depressão pós-parto.
Como ela mesma destaca, ninguém engravida só no corpo. As mudanças trazidas por uma gravidez refletem-se em todos os aspectos da vida de uma pessoa: pensamentos, família, escola, trabalho, tudo sofre as necessidades de transformação e, quanto pior a estrutura familiar e social da jovem, mais difícil é a transição.
Outras dificuldades
Em geral, os índices de gravidez na adolescência são maiores em locais onde as condições sociais e financeiras não são boas. Alessandra conta, por exemplo, que costumava ver muito mais adolescentes grávidas quando trabalhava na região do entorno do Distrito Federal. “Já tive uma paciente que, aos 29 anos, estava grávida, à espera do 9º filho, e já era avó”.
Além de toda a responsabilidade que cuidar de um filho exige, uma gravidez precipitada pode deixar mais difícil a volta ao mercado de trabalho. Foi o caso de Raphaela Miranda. Aos 16 anos, ela começou a trabalhar em um banco como estagiária. O contrato com a empresa acabou quando ela já tinha 17, e não havia nem chance de renovar: ela estava grávida e a dois meses de dar a luz. Brendo nasceu em julho de 2008, mesmo mês em que a mãe completou 18 anos de idade. Raphaela conta que, passado 1 ano e 9 meses, ainda não arrumou emprego. “Até hoje não tenho com quem deixar o Brendo. Vou tentar matricular ele na escola e aí ver se faço um curso ou procuro um emprego”.
O caso de Raphaela reflete uma das principais dificuldades enfrentadas por mães adolescentes. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) feita com 116 meninas de 11 a 19 anos, em fevereiro de 2010, mostrou que, entre as garotas com filhos, 75% não trabalham. Entre elas, menos de 30% está sem emprego por opção: a maioria tentou uma vaga sem sucesso ou não tem com quem deixar a criança.
Novos números
Em meio a resultados tão preocupantes, a boa notícia é que, nos últimos anos, essa realidade já mostrou sinais de mudança.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2010, o número de partos de jovens entre 10 e 19 anos na rede pública diminuiu 22,9% nos últimos cinco anos. Com a ajuda de políticas de prevenção, em 2013, foram 555.159 bebês, é uma queda significativa. No ano 2000 foram mais de 750 mil nascimentos nessa mesma faixa etária. Mas, ainda assim, o país piorou em relação a outras nações. Mesmo diante de países que permitem o casamento infantil.
Para Thereza de Lamare, essa diminuição se deve a diversos fatores. Entre eles, está a disponibilização de métodos anticoncepcionais pela rede pública, aliada ao incentivo do uso desses métodos. Além disso, ela afirma que as campanhas de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis abriram a sociedade para debater temas relacionados ao sexo. Outra importante contribuição vem das atividades feitas em parceria com o Ministério da Educação, como o programa Saúde na Escola, que atua em todo o Brasil desde 2008. Segundo dados do ministério da Saúde, em 2015 o Programa Saúde na Escola já atingiu 4.787 municípios.
Para prevenir, tem que conversar
Apesar dos avanços, Thereza aponta a dificuldade de ver no adolescente uma pessoa capaz de sentir desejo sexual como uma das maiores barreiras à eficácia dessas campanhas e programas educativos. “A tendência é olhá-los como indivíduos que não podem se relacionar sexualmente, que não sentem prazer”, afirma. Thereza diz, ainda, que o melhor caminho para a prevenção é a boa e velha conversa. Assim, é possível orientar os jovens de que todas as mudanças enfrentadas nessa fase da vida são muito naturais e podem ser vividas da melhor maneira, desde que sejam tomados os cuidados para não engravidar nem ter prejuízos para a saúde.
A todos os Plenamigos, Thereza de Lamare deixa um recado: “Procurem se informar, sempre que tiverem alguma dúvida, com o adulto em quem têm mais confiança. Não deixem, nunca, que as dúvidas permaneçam”.
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