Redação do Pedro Henrique Cavalcante Lima

Santos, 13 de julho de 1771.

Hoje fiz 8 anos, e mamãe deu-te de presente para mim. Fiquei muito feliz e, como forma de demonstrar como considero-te importante, não vou tratar-te como um diário comum; escreverei em ti apenas o mais relevante de minha vida.

Portugal, 16 de dezembro de 1787.

Olá, querido diário. Houve duas transformações as quais desejo compartilhar.

A maior mudança foi quando, aos 14 anos, troquei de nome. Um dia fui José Antônio de Andrada e Silva, agora sou José Bonifácio de Andrada e Silva. Fiz isso, porque quis deixar algo claro a todos: cabe a mim o papel de dizer quem e como sou.

Outra mudança foi o recebimento do meu diploma em Filosofia Natural na Universidade de Coimbra. Creio que terei oportunidades aqui, em Portugal, pois a Coroa está incentivando a Ciência. Aparentemente, a rainha percebeu o meio para a modernização da nação: conhecimento. Devido a isso, há o financiamento à Academia de Ciências de Lisboa, da qual pretendo participar e, assim, ir à França estudar.

França, 21 de junho de 1794.

A Ciência está em guerra e, portanto, nós, homens do conhecimento, também estamos. Lutamos contra a ignorância dos poderosos e, caso percamos e a escuridão da necedade tome o mundo, ao menos haveremos criado a faísca que irá acender movimentos dos que herdarem nossas ideias, pois isto que seremos: ideias.

Há batalhas aqui, na França, na qual cientistas são abatidos em nome dessa revolta sangrenta que chamam de revolução. Há, também, conflitos em Portugal, onde troca-se a violência francesa pelo descaso português. Lá, os guerreiros do saber são deixados à mercê da sorte e sem nenhum treinamento após o financiamento inicial. Isso resulta poucos trabalhos concluídos e ainda menos com rigor científico.

Logo, para resolver essas falhas do Estado, tornar-me-ei parte dele.

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 1823.26

Depois de meus estudos na França, retornei a Portugal, local no qual conheci a família Bragança. Tornei-me amigo de D. Pedro e, juntos, viajamos ao Brasil, onde conquistamos a Independência, com o sonho de construir uma grande nação.

O primeiro passo para alcançar-lo será amanhã, uma vez que ocorrerá a Assembleia Constituinte e será aprovada a Constituição, guiada pelos ideais liberais. Finalmente, agora que minha missão como guerreiro começa a completar-se, vejo sentido na dor pela qual passei para chegar até esse dia.

Datas e locais são formalidades, sua função como diário é o registro de emoções.

Eletricidade, lucro e avanço fabril
A Constituição tornaria isso verdade
Aqui! Nesse glorioso Império do Brasil!

Mas, com sua espada, o passado surgiu do escuro
Brandiu-a a nossa absolutista majestade
Expulsou os liberais e, assim, vosso futuro.

E, em exílio, entristecemo-nos ao pensarmos
No “será” que foi “seria”, graças à vaidade
Afinal, com um futuro melhor, sonhávamos.

Tais sonhos, a Independência tornou em planos
Planos quase transformaram-se em realidade
Mas, no fim, foram apenas tolos enganos.

Algum lugar no oceano de lágrimas, poucos dias após o cancelamento do futuro.

Estou tão furioso que sequer consigo escrever no papel! Como D. Pedro ousou exilar-me? Como se não fosse o suficiente, eu, estupidamente, escrevi um poema após ser expulso porque estava triste! Por que estava triste? Ele quem perdeu-me, o que só ocorreu pois o reizinho absolutista achou a Constituição moderna demais para ele. Mas basta esperar, ele há de implorar meu retorno.

Rio de Janeiro, 21 de abril de 1833.

Retornei ao Brasil a convite da Coroa brasileira e, D. Pedro, por outro lado, foi expulso. Infelizmente, voltei quando meu tempo de política findava, limito-me a cuidar do filho do antigo imperador até o fim dos meus dias. Faço-o com a esperança de que o herdeiro continue a guerra em nome da Ciência quando eu tornar-me ideia.

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

3 Comentário(s)

  • by Marília Navarqui postado 16/09/2019 12:36

    Essa é a redação premiada do Concurso?

    • by Turma do Plenarinho postado 19/09/2019 12:43

      Não, Marília, é do segundo colocado (o concurso premia apenas o primeiro lugar). Abraços da Turma!

  • by Kátia Abreu postado 18/11/2019 16:10

    Que fantástica redação! Criativa, diferente! Este garoto já é um escritor.
    Esta é muito melhor do que a redação que ficou em primeiro lugar, sem desmerecer o texto do primeiro colocado, obviamente. Todavia, como desconheço os critérios usados para a análise, não questiono o porquê deste “diário” de Bonifácio ter ficado em segundo lugar. Mas que é excelente, ah é.

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