Cientistas brasileiras ganham o Oscar Verde

Duas brasileiras ganharam o maior prêmio da conservação ambiental do mundo, o Whitley Awards, do Whitley Fund for Nature, do Reino Unido. Por sua importância, o prêmio é considerado o “Oscar Verde”.

Elas foram reconhecidas pelo trabalho científico para a conservação da biodiversidade no Brasil em duas categorias diferentes. Patrícia Medici conquistou o principal prêmio, o Gold Award, pelas pesquisas sobre a anta. E Gabriela Rezende levou o Whitley Award pelo trabalho envolvendo o mico-leão-preto. As duas são pesquisadoras do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ www.ipe.org.br). Além do reconhecimento internacional, as vencedoras vão receber recursos financeiros a serem aplicados em seus projetos.

Há 24 anos, Patrícia lidera ações de conservação da anta brasileira e seu habitat. Seu trabalho deu origem ao maior banco de dados sobre a espécie no mundo. “Ao estudar e defender a causa da conservação da anta brasileira, estamos defendendo também as nossas próprias vidas, nossos recursos naturais e nossa saúde. Considerada a jardineira das florestas, a anta promove a renovação desses ambientes através da dispersão de sementes”, explica a pesquisadora, ressaltando que diversas espécies de plantas somente existem porque suas sementes passam pelo trato digestivo deste animal.

Já Gabriela Rezende coordena, há nove anos, o Programa de Conservação do Mico-Leão-Preto do IPÊ. O pequeno animal vive na Mata Atlântica – o bioma mais alterado do país. Por isso, uma das principais ações do programa é a restauração da floresta, conectando as populações de mico-leão-preto, além da pesquisa científica e educação ambiental.

Gabriela inspirou seu trabalho em pesquisadores pioneiros e espera que o mesmo aconteça com as novas gerações. “Meu sonho é salvar espécies ameaçadas de extinção. Fazer a diferença para uma espécie e seu habitat é o caminho que encontrei para deixar um planeta melhor para as gerações futuras e inspirá-las a se envolver com a conservação, seja profissionalmente ou nas ações do dia-a-dia. Com o prêmio, espero também poder motivar outras cientistas mulheres a atuar pela conservação ambiental”, diz.

O prêmio é entregue anualmente em cerimônia oficial em Londres, pelas mãos da Princesa Real Anne. Mas devido à pandemia da Covid-19, a premiação foi adiada. De toda forma, os recursos já virão para incrementar as ações de pesquisa e conservação das duas espécies. “Mais do que nunca, precisamos ressaltar a importância de manter o equilíbrio de nossos ecossistemas. A atual crise de pandemia que vivemos está intimamente conectada com a destruição de nossos ecossistemas e com a forma como lidamos com a natureza”, alerta Patrícia Medici.

Conheça as duas espécies

Anta

A anta é o maior mamífero terrestre da América do Sul. Dona de um focinho alongado, ela tem hábitos noturnos e chega a pesar 300 kg. Sua dieta é composta por uma grande variedade de folhas, fibras e frutas. Isso faz com que a anta exerça um papel fundamental na dispersão de sementes nas florestas e campos onde vive. Distribuída pela maior parte do Brasil, a espécie tem se tornado rara devido à perda de habitat (pelo desmatamento e queimadas, por exemplo), além da caça e de atropelamentos.

Mico-Leão-Preto

O mico-leão-preto só existe na Mata Atlântica do interior de São Paulo e é a espécie símbolo do estado. É um animal pequeno, pesa cerca de 600 gramas quando adulto e seu corpo é coberto por uma pelagem longa e quase toda preta – só o quadril tem uma coloração alaranjada. Vive em grupos de dois a oito indivíduos, é muito ativo durante o dia e se abriga em árvores ocas à noite. Frutos são a base da sua alimentação, que também inclui insetos, lagartixas e pererecas. Sua população está estimada em 1.400 indivíduos, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). É uma espécie considerada “em perigo” principalmente por causa da perda e fragmentação de seu habitat.

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