Microambiente e Zoonoses

Um mundo invisível cerca todos nós. Ele é formado por vírus, bactérias, protozoários e fungos em quantidades inimagináveis! Mas sabia que nem todos fazem mal à nossa saúde e ao meio ambiente? Muitos, inclusive, podem ser fundamentais para o equilíbrio dos ambientes e do nosso próprio organismo.

Mas a ação de alguns deles marcou a história da humanidade de forma desastrosa. As grandes pandemias, como a peste negra, a gripe espanhola, a cólera, a varíola, o tifo e a novíssima covid-19, tiveram origem em micro-organismos, sobretudo vírus e bactérias.

Quem estuda esse universo tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão amplo é a microbiologia. Essa área do conhecimento tem um ramo que trata especificamente das interações dos micro-organismos com o meio ambiente. “A microbiologia ambiental estuda a composição e a fisiologia das comunidades microbianas de fungos, vírus e bactérias, nos diferentes ambientes, por exemplo, solo, água e ar”, explica a virologista Ana Cláudia Franco, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Especialista em microbiologia ambiental, Ana Cláudia esclarece: “Quando a gente estuda a fisiologia dessas comunidades, passa a compreender melhor como elas interagem entre si, como interagem com os seus hospedeiros nos locais onde se multiplicam e também como interagem com o meio ambiente”.

Pequenos agentes, grandes problemas

Segundo a pesquisadora, as populações de micro-organismos são dinâmicas e podem mudar de acordo com a situação. Assim, em um ambiente equilibrado, pode haver uma composição de população microbiana bem diferente de um ambiente que está degradado. É muito provável, por exemplo, que o novo coronavírus tenha se tornado um problema desta forma.

“Esse vírus aparentemente circulava naturalmente em espécies silvestres na China mas, por alteração ambiental humana, teve oportunidade de causar infecção em humanos com sucesso, acabou também tendo sucesso na transmissão entre seres humanos e se tornou essa grande pandemia”, detalha Ana Cláudia Franco.

De acordo com a especialista, nem sempre um vírus que circula em uma espécie silvestre consegue infectar seres humanos. Mas quando ocorre a transmissão e o vírus consegue se multiplicar, normalmente o efeito da infecção é mais grave do que o efeito do vírus na espécie original.

 Zoonoses

Zoonose é o nome dado às doenças e infecções transmitidas aos seres humanos por animais, contaminados por micro-organismos. Muitos vírus e bactérias costumam se utilizar de outros animais, chamados de “hospedeiros”, para causar estragos na saúde humana. Por isso, os centros de zoonoses de todo o País dedicam atenção especial ao monitoramento de algumas espécies, como cães, gatos, capivaras, macacos e morcegos.

O gerente do Centro de Zoonoses do Distrito Federal, Maurício Monteiro, ressalta a importância de um ambiente equilibrado e da preservação dos animais em geral, mesmo daqueles que costumam ser hospedeiros de micro-organismos. “Todos os animais são muito importantes para os biomas. O morcego é um bioindicador de grande importância para a raiva. De forma nenhuma o ser humano precisa matar morcegos. Assim como o macaco é o bioindicador da febre amarela. O macaco é o anjo da guarda para febre amarela em humanos, as unidades de vigilância de  zoonoses o têm como a espécie protetora da vida humana, porque se a gente identifica o macaco doente, as medidas logo serão tomadas e salvarão diversos seres humanos”, detalha.

Entender e respeitar as delicadas relações entre todos os organismos vivos é uma tarefa importante para garantir o equilíbrio ambiental, que certamente vai se refletir no bem estar e na saúde de todos os seres.

Algumas zoonoses

Raiva – doença infecciosa extremamente grave e letal, causada por um vírus da família Rabhdoviridae, gênero Lyssavirus. Pode infectar cães, gatos e morcegos e, a partir desses animais, chegar aos seres humanos.

Hantavirose – doença infecciosa causada por um vírus da família Bunyaviridae, gênero Hantavirus. A hantavirose atinge inicialmente roedores silvestres, que podem eliminar o vírus pela urina, saliva e fezes. A transmissão para humanos se dá geralmente por inalação de poeira contaminada.

Febre Amarela – provocada por vírus do gênero Flavivírus, que podem ser transmitidos aos seres humanos pela picada do mosquito Aedes Aegypti, o mesmo que transmite os vírus da dengue, zika e chikungunya. É importante saber que macacos não transmitem a doença. Eles também são afetados e são importantes alertas para o risco de transmissão em determinados locais.

Leptospirose – doença com origem bacteriana. Ela ocorre quando a bactéria Leptospira infecta alguns animais, como os ratos. Seres humanos podem se contaminar por meio de contato com a urina desses roedores ou até mesmo pelo contato com a água ou o solo que contenham essa urina.

Febre maculosa – também conhecida como “febre do carrapato”, é causada pela bactéria Rickettsia e pode chegar aos seres humanos por picada de carrapatos e até por fezes de piolhos. A capivara é um hospedeiro importante dos carrapatos contaminados e por isso é monitorada com atenção pelos centros de zoonoses.

Matéria adaptada do programa Salão Verde, da Rádio Câmara, que pode ser conferido na íntegra aqui.

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