Conversando com crianças e jovens sobre racismo

Ilustração de um campo de grama verde com girassóis no fundo. Sobre a grama, uma menina de pele escura e cabelos pretos cacheados sorri. Com as mãos sobre os ombros desta menina, atrás dela, há um menino de cabelos loiros e pele clara. Atrás dele, com as mãos sobre os ombros dele, um menino de pele escura e sem cabelos na cabeça e logo atrás, também com as mãos nos ombros de quem está na frente, uma menina de pele clara e cabelos castanhos. Atrás deles, uma menina ruiva de olhos verdes segura a mão de um menino de pele escura e boné. Todos sorriem.

Quem já se deparou com crianças que fazem comentários racistas? A infância é, muitas vezes, vista como uma fase de pureza, livre de preconceito. Esta compreensão, além de não ser realista, ainda pode trazer grandes prejuízos à sociedade.

Desde que nascem, as crianças absorvem o que está a seu redor. Isso vale não só para o que veem e ouvem dentro de casa, mas para o que está nas ruas, escolas, nos parques e clubes que frequentam.

Não é raro ouvir de adultos negros experiências de racismo vividas ainda na educação básica. Exclusão de brincadeiras, comentários maldosos, apelidos envolvendo aspectos raciais são vividos com muito sofrimento.

Há, entre os educadores e responsáveis, quem não fale do assunto por achá-lo duro demais para ser tratado com os pequenos. Outros evitam o tema por não entendê-lo bem ou por não se sentirem à vontade para discuti-lo.

Seja qual for o motivo que afasta as crianças do debate racial, uma coisa é certa: se queremos construir uma sociedade mais justa, em que todos tenham acesso às mesmas oportunidades, é preciso envolver os pequenos nessa conversa desde cedo, em casa e na escola.

Mas as crianças nem percebem que têm cor diferente…

Isso não é verdade. Mesmo bebês, já a partir dos 6 meses, percebem diferenças físicas, incluindo a cor da pele. Estudos apontam que, por volta dos cinco anos, as crianças já podem mostrar sinais de viés racial, tratando pessoas de um determinado grupo de maneira mais favorável do que o outro. Por isso, evitar ou ignorar o assunto é só varrê-lo para baixo do tapete e isso não protege ninguém. Pelo contrário, faz com que as crianças absorvam preconceitos das pessoas que as rodeiam e consolidem comportamentos discriminatórios.

Como falar sobre racismo, a cada faixa etária

A maneira como as crianças entendem o mundo evolui à medida que elas crescem e, por isso, sempre é tempo de falar sobre igualdade e racismo. Confira algumas sugestões de como iniciar essa conversa:

Menos de 5 anos

Nessa idade, as crianças começam a formar sua visão de mundo, percebendo e apontando as diferenças das pessoas ao seu redor. Quando elas trouxerem o assunto, aproveite para começar a abordá-lo, sempre com linguagem simples e adequadas à idade.

Esteja aberto – Crianças costumam ser muito curiosas. Silenciá-las quando questionam sobre pessoas que parecem diferentes pode fazer o assunto virar um tabu. Se você tiver dúvidas sobre como abordar o assunto, pesquise, converse com pessoas que possam ajudá-lo. De todo modo, deixe claro que você está sempre disposto a responder às suas perguntas e incentive-as a recorrerem a você.

Reconheça e celebre diferenças – Se a criança perguntar sobre a cor da pele de alguém, aproveite a oportunidade para mostrar que as pessoas têm, sim, aparências físicas diferentes – altura, peso, cor de pele e dos olhos, tipo de cabelo. Mas que também podem ter muitas coisas em comum, como gostos, habilidades, inteligência, sensibilidade… todas essas diferenças devem ser respeitadas e valorizadas: afinal, são elas que deixam o mundo tão diverso e interessante!

Explore o senso de justiça – as crianças, especialmente na faixa dos cinco anos, já entendem muito bem o conceito de justiça. Fale com elas sobre como é injusto que pessoas sejam tratadas de forma diferente por causa da cor da pele. É importante que todos trabalhemos juntos para acabar com esse mal.

6 a 11 anos

As crianças dessa idade já conseguem conversar sobre seus sentimentos e estão ansiosas por respostas. Elas também estão mais expostas a informações que podem achar difíceis de processar. Comece procurando descobrir o que elas sabem.

Seja curioso – ouvir e fazer perguntas é o primeiro passo. Por exemplo, você pode perguntar o que elas têm ouvindo entre os amigos, na televisão e nas redes sociais.

Discuta a mídia juntos – as redes sociais e a internet podem ser uma das principais fontes de informação para as crianças. Demonstre interesse nos programas e séries a que assistem e nas conversas que estão tendo online. Aproveite oportunidades para questionar exemplos de estereótipos e preconceitos raciais na mídia, como: “Por que certas pessoas são retratadas como ricas e bem sucedidas e outras não?”.

Converse abertamente – Responda com franqueza e coração aberto aos questionamentos, preocupações e sentimentos das crianças em relação a temas como racismo, diversidade e inclusão. Se tiver dúvidas sobre algum assunto, convide-o a pesquisar juntos a resposta. Isto fará com que elas percebam você como alguém em quem podem confiar e recorrer quando precisam desabafar ou ouvir um conselho.

A partir de 12 anos

Os adolescentes são capazes de entender conceitos abstratos e expressar seus pontos de vista com mais clareza. Eles podem saber mais do que você pensa e nutrir sentimentos intensos em relação ao racismo. Tente entender como eles se sentem e o que pensam, e continue a conversa.

Entenda o que eles pensam – Descubra o que os jovens sabem sobre racismo e discriminação. O que eles costumam ouvir no noticiário, na escola, de amigos?

Faça perguntas – encontre oportunidades, como uma notícia recente ou uma polêmica na internet, para conversar sobre o assunto. Pergunte o que eles pensam e apresente-os a diferentes perspectivas para ajudar a expandir sua compreensão.

Incentive a ação – A adolescência é uma fase de autoafirmação. Dizer o que pensa e acredita, seja em casa, em sala de aula ou nas redes sociais, é fundamental para muitos jovens. Se ao seu redor já há adolescentes usando a internet para se manifestar, converse com eles sobre as diferentes possibilidades e espaços para que manifestem suas convicções.

Para todas as idades

Incentive o exercício da empatia, para que a criança ou o adolescente se acostume a se colocar no lugar do outro. Para isso, é preciso que saibam que existem desigualdades.

Encontre maneiras de apresentar às crianças culturas diversas e pessoas de diferentes raças e etnias. Apresente-as a autores, cientistas, artistas e personalidades de outras nacionalidades. Quanto da cultura e da cor transparece no trabalho dessas pessoas? Será que eles enfrentaram obstáculos pelo simples fato de pertencerem uma determinada etnia?

Explore a diversidade com os cinco sentidos. Que tal provarem juntos um prato de outra cultura, ou conhecerem as especiarias que se usam em outras culinárias? Outra boa opção é escutar a música e assistir a filmes produzidos por outros países, fora do circuito comercial. Vale até mesmo sentir a textura e apreciar os padrões de mantas feitas a mão por artesãos de países diferentes.

Explore o passado para entender melhor o presente. Eventos históricos como o fim do Apartheid, na África do Sul, e o movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos podem mostrar como as pessoas se uniram com sucesso pela igualdade e pela justiça. Pesquisem também sobre o passado de escravização no Brasil e suas consequências, que perduram até hoje.

Dê o exemplo. Mais do que ouvirem as orientações, as crianças imitam as atitudes daqueles que admiram. Analise o seu comportamento e valores – será que você ainda usa expressões racistas? Ou ainda julga, mesmo sem querer, a importância de uma pessoa pelo tom de sua pele? Sempre é tempo de mudar. E não há demérito nisso. Pelo contrário: um ídolo que reconhece que errou e que busca se melhorar é um exemplo que melhora a cada dia.

Com informações compiladas por Michael Sidwell e Supreet Mahanti, UNICEF.

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

4 Comentário(s)

  • by Carolina Porto Barbosa postado 07/07/2020 21:17

    Eu acho que rascisomo é uma coisa horrivel, pois não devemos tratar os negros assim eles são iguais a nós eles comem da mesma comida bebem da mesma água,tem sentimentos iguais a nó,sentem medo,raiva,amor,alegria ETC.
    Não devemos tratar NIMGUEM de forma racista.

    • by Turma do Plenarinho postado 08/07/2020 12:47

      É isso aí, Carolina! A quantidade de melanina na pele não tem relação alguma com talentos, habilidades, capacidades, temperamentos ou comportamentos. Abraços da Turma!

  • by Caroline postado 30/11/2020 13:30

    Esses dias eu estava refletindo sobre uma coisa que meu avô disse,ele disse assim:Pq tem dia da consciência negra e não tem dia da conciencia branca?,aí eu disse assim:É pq antigamente os negros foram escravizados e os brancos não! Tanto que os brancos escravizavam os negros! E eu acho isso injusto pq os negros so tem uma pele mais escura que a dos brancos! Mais eles tem os mesmos sentimentos que agente! Tem gente que trata os negros como se eles fossem tipo…E.T’s!!!!

    • by Turma do Plenarinho postado 30/11/2020 13:51

      Exato, Caroline – não existe Dia da Consciência Branca porque todo dia é dia de brancos serem privilegiados em relação aos negros. Brancos não são considerados incapazes, acusados de crimes ou mortos pelo simples fato de serem brancos. É isso que acontece com os negros, todos os dias. Enquanto a nossa sociedade não se conscientizar de como isso é errado, injusto e horrível, vai ser preciso haver um dia especial que promova essa reflexão. Abraços da Turma!

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