No Brasil, a violência e a falta de segurança não saem das manchetes dos telejornais ou das notícias que circulam pela internet. Sendo assuntos diários, assombram as pessoas. O medo e a busca por uma saída rápida acabam gerando explicações simplistas para um problema muito complexo.
É comum ouvir gente defendendo a volta de formas autoritárias de governo como solução. Para essas pessoas, o endurecimento de leis e a limitação da liberdade dos cidadãos, em geral, teriam poder para diminuir a violência. Mas será que isso é verdade?
Todos os anos, o Instituto de Economia e Paz publica o Índice Global da Paz (GPI), um estudo que lista diferentes países em todo o mundo, dos mais pacíficos aos menos pacíficos. Em 2019, os mais pacíficos foram:
- Noruega
- Finlândia
- Suíça
- Suécia
- Dinamarca
- Islândia
- Holanda
- Irlanda
- Nova Zelândia
- Canadá
Segundo o Índice da Democracia da revista The Economist, esses dez países vivem regimes democráticos.
Já os países menos pacíficos, pelo GPI, são:
- Somália
- Iêmen
- Sudão do Sul
- Chade
- Eritreia
- Congo
- Síria
- Sudão
- Afeganistão
- Guiné Equatorial
Todos eles têm regime autoritário, exceto o Paquistão, que seria um regime misto (com traços autoritários e democráticos).
Estes dados mostram que um regime autoritário não garante a tão sonhada paz, como muitos defendem. De onde vem, então, esta ideia de que o problema da falta de segurança pode ser resolvido com a volta da ditadura?
Para ajudar a pensar de forma mais crítica esta questão, é importante entender melhor o que é democracia, o que é viver sem ela e de que modo estes regimes políticos podem (se é que podem!) explicar o aumento da violência.
O que é democracia?
Democracia vem do grego e resulta da junção das palavras demos (povo) e cracia (poder). Juntando as duas, chegamos à conclusão de que democracia significa poder do povo, ou ainda, poder no povo.
Em uma democracia, todos são considerados iguais, e a importância de cada um na hora de tomar uma decisão é a mesma. Por isso, nem sempre há como resolver rapidamente questões que são muito importantes. As decisões mais maduras, que beneficiam de forma mais ampla o povo e que resultam em um bem coletivo para a sociedade, na maioria das vezes precisam ser muito bem discutidas e isso leva tempo.
“Para existir uma democracia, é preciso que o povo tenha liberdade e participação”, é o que explica o professor de Ciência Política Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB). Neste regime, o voto é o instrumento de decisão que iguala os cidadãos (ricos ou pobres, alfabetizados ou não, empregados ou desempregados), pois faz com todos tenham o mesmo peso na escolha dos representantes.
Viver sem democracia
Num governo autoritário, o poder sai das mãos do povo e fica concentrado nas mãos de uma pessoa ou de um pequeno grupo. Esse grupo passa a deter o poder de decisão, e as pessoas perdem o direito de expressar opiniões que contrariem o governo.
Os veículos de comunicação passam a ser censurados e nem toda informação pode ser transmitida, somente aquela que interessa a quem está no poder. Deste modo, muito conteúdo é proibido e não chega à população.
Em países com regimes autoritários, é muito comum haver casos de pessoas que são torturadas, presas e até mortas porque discordaram do sistema dominante.
Violência e falta de segurança
Em uma reflexão mais cuidadosa sobre esta questão, é preciso ter em mente o fato de que não há uma única causa que a explique. Fatores sócio-econômicos, culturais, institucionais devem ser analisados para que saídas sejam planejadas. Para problemas complexos, nem sempre há solução fácil.
Para contribuir com a construção de um pensamento mais crítico sobre assunto, vale pesquisar sobre:
- Dados de violência e falta de segurança em períodos autoritários;
- Soluções de combate à violência adotadas nos países com melhor ranking no GPI;
- Como poder discutir abertamente ideias divergentes e ser livre para dizer o que se pensa estariam ligados ao aumento da violência;
- Percentagem de notícias boas e ruins nos telejornais e portais de notícias;
- Relação entre notícias sobre fatos violentos e aumento da sensação de insegurança. Quando mais notícias sobre violência e criminalidade chegam até nós, isso quer dizer que estamos de fato menos seguros? Ou apenas tivemos mais acesso a certas informações?
Fontes:
Institute for Economics & Peace. Positive Peace Report 2019: Analysing the Factors that Sustain Peace, Sydney, October 2019.
The Economist – Unidade de Inteligência. Democracy Index 2019: A year of democratic setbacks and popular protest.
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