Borboletas Amarelas ajudam estudantes no TO

Ilustração de fundo azul, com várias borboletas também azuis espalhadas e, em destaque, algumas borboletas amarelas.No centro, uma mulher de pele clara e cabelos lisos longos e castanhos sorri, veste um vestido amarelo e tem as duas mãos levantadas como se tocasse as borboletas.

As borboletas são símbolos de transformação. E foram elas que inspiraram a professora Ionara Miranda da Cunha, de Araguaína (TO), a criar o Borboletas Amarelas, projeto que ajudou estudantes do Ensino Fundamental 2 a lidarem melhor com seus sentimentos.

O resultado foi uma redução nos casos de automutilação, aumento da autoestima dos jovens e, ainda, a indicação de Ionara para o Prêmio Professor Transformador, organizado pela rede de educadores e pesquisadores Base2Edu e pela Bett Educar.

Professora de Língua Portuguesa e Redação, à época na Escola Estadual Henrique Siqueira Amorim, a educadora percebia que muitos estudantes não estavam bem emocionalmente. Em um projeto de combate ao bullying (conheça o projeto aqui), ela conseguiu se aproximar deles. “Alguns começaram a se abrir comigo, contar mais coisas da vida deles, porque perceberam que eu me importava. E eu percebi que alguns se mutilavam, que alguns tinham sinais de depressão”, relata.

Carta do Desabafo

Ionara começou a pesquisar sobre o assunto e introduziu temas relativos às emoções em suas aulas. Mas alguns estudantes seguiam com receio de se expressar. Foi então que surgiu a “carta do desabafo”.

“Eles escreviam o que os fazia sentir angústia, medo. Muitos não conseguiam escrever na escola porque choravam bastante. Eu recolhia as cartinhas, mas combinei de só ler se eles quisessem. Mas nem precisava eu ler, porque a escrita já estimulava a tirar de dentro deles aquela dor. Assim, foi mais fácil para eles começarem a compartilhar com os colegas o que os afligia”, lembra.

No final do projeto, as cartas do desabafo foram queimadas “para simbolizar que tudo na vida acaba, inclusive a dor e a angústia”. As cartas estavam lacradas, mas à medida que o fogo crescia, elas se abriram, revelando algumas surpresas. “De dentro das cartinhas caíram lâminas, pedaços de vidro, espelho quebrado. Isso confirmou que eles estavam se automutilando. Só que, durante o projeto, eu percebi que os braços deles já estavam cicatrizados, não tinham novas mutilações. Aqueles objetos que eles usavam para se mutilar que estavam dentro das cartinhas eram a prova disso”.

Parcerias

Além de trabalhar os temas socioemocionais com filmes e músicas, Ionara Miranda buscou apoio de uma psicóloga (Larissa Machado), que falou com os estudantes sobre depressão e destacou a importância de buscar tratamento especializado quando a pessoa não consegue se curar sozinha. O Tribunal de Justiça também foi parceiro, levando para a escola a experiência dos círculos restaurativos – método alternativo de solução de conflitos usado pela justiça. “Os círculos da justiça restaurativa permitiram liberar perdão, porque muitos estudantes tinham mágoas uns dos outros”, explica Ionara.

Outra dinâmica aprovada pelos jovens foi a de uma caixinha que passava na sala de aula. Nela, eles colocavam bilhetes anônimos relatando o que lhes causava medo, angústia e dor. Depois, os bilhetes eram pegos de forma aleatória e os colegas poderiam dar conselhos sobre as questões relatadas.

Metamorfose

E voltando à inspiração para o projeto, a educadora de Araguaína explica: “Primeiro, a lagartinha se acha diferente, esquisita, não tem noção do que vai acontecer com ela, que vai se tornar uma linda borboleta. Os alunos são como essa lagartinha. E o casulo é o que o projeto faz, dá assistência, ouve, ensina o aluno a colocar para fora o que incomoda, suas angústias e mostra que, no final, ele vai se tornar um lindo ser humano, uma pessoa boa, linda, assim como a lagartinha”.

Ionara também ensina que ninguém pode quebrar o casulo pela borboleta, senão suas asas não terão força para voar. “Em nenhum momento eles eram obrigados a sair do casulo antes da hora, eles só saíram quando tinham certeza do que estavam sentindo. Mostramos que a responsabilidade de quebrar o casulo era deles, no momento certo”, conta. E o amarelo foi escolhido por remeter à campanha mundial de prevenção ao suicídio, que ocorre em setembro e tem essa cor como símbolo.

Projeto virtual

Atualmente, Ionara Miranda trabalha no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, para onde levou um pouco do projeto Borboletas Amarelas, dentro da disciplina “Projeto de Vida”. Com as aulas ocorrendo de forma remota, devido à pandemia da Covid-19, a educadora adaptou as dinâmicas. Agora os estudantes enviam suas mensagens para o “email do desabafo” ou para o “whatsapp do desabafo” e todas elas são lidas apenas por Ionara.

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2 Comentário(s)

  • by Bruno Andrade postado 09/09/2020 22:26

    Muito bacana o projeto, a professora Ionara é uma pessoa incrível, nesse projeto os alunos foram realmente alcançados.

  • by luciana nunes postado 10/09/2020 01:49

    Seu empenho e carinho com alunos fizeram toda a diferença na vida dos pequenos

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