Cacilda Becker – Uma vida nos palcos

Ilustração de um palco de teatro com cortinas vermelhas e projetores que iluminam de luz amarela uma mulher que está no centro do palco. Ela veste vestido bege claro, tem cabelos enrolados castanhos na altura dos ombros e está com os dois braços erguidos e expressão séria.

Ela é considerada por muitos especialistas a maior atriz do teatro brasileiro. Cacilda Becker nasceu em Pirassununga (SP) em 06/04/1921. Cacildinha, ou apenas Cidinha, começou a dançar balé ainda menina, mas precisou trabalhar cedo para ajudar sua mãe Alzira a cuidar dela e das duas irmãs mais novas. Por vir de uma família pobre, com pais separados, Cacilda sofreu muito preconceito na infância, quando elas já moravam em Santos (SP). Mas nada disso conseguiu apagar o seu brilho.

“Na minha pobreza, houve música, dança, poesia e, sobretudo, amor”, declarou em uma entrevista. Dançava em casa e tinha aulas de piano com uma vizinha. Aos 17 anos, Cacilda Becker se formou professora, começou a dar aulas e pela primeira vez sua família teve uma casa de tijolos!

Três anos depois, incentivada pelo diretor e tradutor Miroel Silveira, trocou a dança pela atuação, ingressando no Teatro do Estudante do Brasil (TEB), no Rio de Janeiro. Naquela época, as montagens ocorriam de uma forma bem diferente de hoje em dia: os atores não recebiam a peça inteira, só as suas falas para decorar; tinham que comprar seus próprios figurinos; a iluminação não mudava e o cenário era desenhado no fundo do palco.

Cacilda Becker passou por diversas companhias teatrais, até chegar ao Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), grupo que modernizou o teatro no Brasil. A artista foi a primeira atriz contratada de forma profissional pelo TBC. Após quase 10 anos de sucessos no grupo, fundou sua própria companhia (Teatro Cacilda Becker), junto com o então marido Walmor Chagas, com o lendário diretor Zbigniew Ziembinski e a irmã e também atriz Cleyde Yáconis. Recebeu diversos prêmios em sucessivas montagens, indo da farsa à tragédia, com uma versatilidade e talento que chegaram a ser classificados como “feitiçaria”. O crítico francês Michel Simon chegou a compará-la com Charles Chaplin: “Ela é um monstro do teatro (…) basta aparecer que a magia se opera”, observou.

A atriz também fez rádio, cinema e televisão, além de lutar bravamente em defesa da classe artística e contra a censura, em uma época de bastante repressão devido à ditadura militar.

Em 1969, durante a encenação da peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, Cacilda Becker sofreu um derrame cerebral, sendo transportada do teatro para o hospital ainda com o figurino de seu personagem. “Ela foi sendo levada pela plateia com o braço caído e eu me lembro que a mão, os dedos dela iam esbarrando pelas cadeiras. Era como se ela estivesse tentando se segurar ou se despedir daquele lugar”, relembrou a atriz Marília Pêra (1943-2015).

A artista morreu 39 dias depois, em 14/06/1969. Cacilda Becker foi assim definida pelo admirador e poeta Carlos Drummond de Andrade. “A morte emendou a gramática. Morreram Cacilda Becker. Não era uma só. Era tantas (…) Era principalmente a voz de martelo sensível martelando e doendo e descascando a casca podre da vida para mostrar o miolo da sombra, a verdade de cada um dos mitos cênicos. Era uma pessoa e era um teatro. Morrem mil Cacildas em Cacilda”.

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