Cultura ancestral levada para a escola

 

Os povos indígenas têm direito a uma educação escolar específica, intercultural, bilíngue/multilíngue e comunitária. Segundo o Censo Escolar de 2015, existem 3.085 escolas indígenas em todo o país, com 285 mil estudantes e 20 mil professores. “Um aluno que estude numa escola indígena tem uma complexidade de mundos, porque ele consegue percorrer por essas duas ciências: a tradicional, que se aprende na vivência do seu povo, e a científica, dada nas escolas convencionais. Isso torna suas mentes bem mais abertas”, avalia a educadora indígena Juliana Santana.

Na creche Oka Katuana e no Colégio Estadual Indígena Tupinambá Amotara (distrito de Olivença – Ilhéus/BA), as práticas pedagógicas são baseadas nas especificidades da cultura e ancestralidade Tupinambá. De preferência, em ambientes “desemparedados, para mostrar que a mãe-terra é quem nos dá a ciência, a cultura, nosso sustento e nossa sabedoria”, explica a educadora.

Um exemplo prático acontece com o pé de jenipapo. Quando conhece a árvore, o curumim pode aprender em que bioma ele está, a circunferência do tronco, quantidades e medidas, trabalhar texturas, saber sobre a potencialidade medicinal da planta, receitas, processos químicos na extração da tinta do jenipapo, e depois o significado das pinturas corporais feitas com aquela tinta.

Os cânticos tradicionais são usados de forma pedagógica no processo de alfabetização, e também trabalhando corpo e movimento, oralidade e musicalidade. “Dependendo da modalidade de ensino de cada criança, a gente vai aumentando as habilidades e competências. A gente traz o nosso ancião para os espaços educacionais para que a criança conheça a história do seu povo. A gente leva os nossos curumins para andar nas aldeias, reconhecer seu território, trabalhar a consciência ambiental, mostrar a diversidade das comunidades, de onde tiram seu sustento”, exemplifica. Além disso, professor e estudantes se organizam em círculos, onde o educador tanto ensina quanto aprende.

Farmácia Viva

Um dos projetos de destaque é o Farmácia Viva, que começou em 2015, no Ensino Fundamental 1. A partir da troca de mudas de ervas medicinais, os estudantes aprendem os nomes populares e científicos das plantas, suas potencialidades e a necessidade de respeitá-las. “A gente compreende que se eu não respeito a planta, ela não me cura. Trabalhamos essa concepção do respeito à nossa mãe natureza e a tudo que tem nela”, explica.

A creche Oka Katuana tem estudantes de cerca de 11, das 23 comunidades que vivem no território Tupinambá. Eles são estimulados a pesquisar as plantas existentes nos seus quintais para levá-las à escola e trocar com colegas de outras comunidades. “Nesse momento de troca de plantas e de conhecimento, a gente também trabalha a oralidade dos alunos, eles recontando o que foi contado para eles, apresentando a planta, para que serve, e também para que a gente possa usar essas ervas no espaço escolar”.

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