Tupinambá de Olivença com muito orgulho

Ilustração de fundo em tons de rosa e roxo. No centro da imagem, há uma mulher de pele parda, cabelos na altura do ombro castanhos. Ela usa um grande cocar de penas azuis e beges, seu rosto está pintado com grafismos de cor escura. Ela usa um vestido bege e segura um prato cor de laranja com frutas em cima.

 

Afirmar sua identidade indígena exigiu coragem de Juliana Santana. Desde a infância, percebeu que as ameaças a seu povo iam bem além do deboche. O medo, inclusive, fez com que ela abandonasse um estágio onde sofria preconceitos e escutava intimidações. Mas nada disso tirou sua disposição para a luta. Na verdade, só a fortaleceu.

Juliana, ou Amanayara Tupinambá, no seu nome étnico, começou a atuar na educação de forma voluntária aos 15 anos. Em 2014, passou no primeiro concurso destinado a educadores indígenas na Bahia e, desde então, trabalha na Oka Katuana, creche municipal ligada ao Colégio Estadual Indígena Tupinambá Amotara, no distrito de Olivença, em Ilhéus (BA).

A vocação para a educação tem tudo a ver com suas raízes. Juliana vem de uma tradicional família Tupinambá de Olivença e, por isso, aprendeu desde cedo suas tradições, língua e cultura. E também entendeu como era difícil ser indígena. “Quando eu chegava na escola com a pintura corporal, era motivo de chacota. Quando a gente estava com nossos trajes, era chamado de galinha, bicho que tem pena, davam muito nome pra gente, era muito difícil. Os professores não interferiam, nem desconstruíam os pensamentos dos meus coleguinhas em relação ao meu ser tupinambá”, relembra.

“Mas eu tinha uma base vinda da tradição e da cultura do meu povo. Por mais que sofresse ataques de discriminação e inferioridade, nunca neguei a minha nação Tupinambá. Aprendi desde nova que onde chego tenho que falar quem eu sou e me represento enquanto povo Tupinambá. Quando estou em um lugar, não estou sozinha, estou com meu povo. O nome do meu povo tem que ir comigo onde eu estiver, porque todas as minhas conquistas e lutas, principalmente as conquistas, vieram através da luta do meu povo”, ensina.

Fortalecimento da identidade

A estratégia, então, foi começar a trabalhar a cultura e língua indígenas em escolas e universidades, com os voluntários do grupo jovem Tupinambá Paranã. “Também começamos a fazer essa desconstrução dentro da sociedade ilheense. Éramos e somos muito estereotipados como falsos índios, ladrões de terras, invasores. Esse preconceito vem através do não-conhecer”, avalia Juliana.

Além de promover palestras e rodas de conversa, Juliana coordena os jogos indígenas estudantis do povo Tupinambá. Ela lembra, emocionada, da mudança entre estudantes que não frequentavam escolas indígenas. “Eles começaram a trabalhar o fortalecimento da cultura do seu povo, a produzir seus próprios adereços, trajes, começou um processo de composição musical para estar nos espaços levantando a nossa voz”, orgulha-se a educadora.

Para Juliana, tirar a invisibilidade do povo Tupinambá de Olivença é fundamental para se garantir respeito e direitos aos indígenas. “Aqui na região nós somos tidos como extintos”, explica. Mas com o trabalho de fortalecimento da identidade indígena, muitos jovens inseriram a cultura de seus ancestrais no cotidiano: na forma de tocar um instrumento, no falar, nas composições e rimas e no uso da pintura corporal.

Orgulho e inspiração

Juliana Santana faz questão de apontar as mudanças promovidas pela educação entre seu povo. “Eu vim de uma educação básica convencional onde sofria muito preconceito e racismo. Percebi que com a educação escolar indígena a gente se fortalece mais. Os nossos curumins têm orgulho de serem indígenas, não se sentem intimidados com esses estereótipos da sociedade. Eles sabem da ciência do povo deles, dos cantos, amam a pintura corporal. Tudo isso é muito emocionante”.

Vale destacar aqui que, além de educadora indígena, Juliana é pedagoga, geógrafa e mestranda em Antropologia Social pela Universidade de Brasília. E também compositora! Certamente, uma figura que ensina e inspira não só pelo que fala, mas principalmente pelo que pratica na escola e na comunidade.

Sobre os Tupinambá de Olivença

Os Tupinambá de Olivença vivem no sul da Bahia, ao redor do distrito de Olivença, no município de Ilhéus (BA). Sua história é marcada pela luta não só por território, mas também pela afirmação de sua identidade. No fim do século 19, os direitos indígenas diferenciados foram retirados deste povo, visto como “caboclo”ou como “índios civilizados”. Mas a Constituição de 1988 trouxe a oportunidade para esses e outros indígenas terem suas demandas ouvidas e respaldadas. Em 2001, os Tupinambá de Olivença foram reconhecidos oficialmente como indígenas pela Funai, mas a luta pelos seus territórios continua.

Segundo Juliana, além do preconceito, seu povo sofre perseguições por parte de fazendeiros e da própria polícia, com a criminalização de lideranças indígenas. Tudo isso, segundo ela, devido ao fato de reivindicarem seu direito à terra. Mas nada tira deles a disposição para seguir em frente.

“Nós somos povos filhos de resistência e sofremos por um processo de violência contra nossa língua, nossa cultura e nossas tradições. Mas a gente jamais deixou e vai deixar as nossas gerações morrerem, porque nós somos resiliência e repassamos a nossa cultura. Somos povos raízes. Cortaram as nossas folhas, os nossos troncos, os nossos galhos, mas não arrancaram as nossas raízes. Por isso nós, o povo tupinambá, brotamos de novo, crescemos e estamos aqui resistindo e existindo”, assegura Juliana.

>>> Saiba mais sobre o trabalho desenvolvido por Juliana.

>>> Quer explorar a temática indígena em sala de aula? Confira as dicas da educadora.

 

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

Comente!

Seu endereço de email não vai ser publicado. Campos marcados com * são exigidos