Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

Era uma vez um menino que era sanfoneiro, que virou soldado, que voltou a ser sanfoneiro, que virou “Lua”, que virou rei. Estamos falando de Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão.

Luiz Gonzaga nasceu em 13 de dezembro de 1912, em uma fazenda no município de Exu, Pernambuco, ao pé da serra do Araripe. Era o segundo de nove irmãos, filho do agricultor e sanfoneiro Mestre Januário.

Muito cedo, o menino aprendeu a tocar a sanfona de oito baixos do pai. Aos oito anos, quando não estava trabalhando no campo, já se apresentava sozinho como músico.

Na adolescência, Luiz se apaixonou pela filha de um coronel local. O pai da moça não admitia o envolvimento dela com um rapaz pobre. Luiz tentou enfrentá-lo, levou uma surra e não teve muita escolha a não ser fugir. Acabou se alistando no Exército em Fortaleza, Ceará.

Por quase dez anos, Luiz foi o soldado Nascimento. Mas a paixão pela música não o abandonou. Durante esse período, aprendeu a tocar a sanfona de 120 baixos e comprou um modelo mais simples, de 48 baixos.

Em 1939, quando deixou o Exército, no Rio de Janeiro, pensava em voltar para a sua terra natal. Enquanto esperava o navio que o levaria a Recife, de sanfona embaixo do braço, resolveu conhecer os arredores. Foi ali, entre bares e casas noturnas, que voltou a ser sanfoneiro.

No início, Luiz era bem diferente da imagem que temos dele. De terno e gravata, ele tocava valsa, tango, choro e foxtrote, gêneros musicais que faziam sucesso na época. Foi quando um grupo de amigos cearenses o questionou – por que não tocar ritmos de sua terra? Afinal, era grande o fluxo de imigrantes nordestinos para o sudeste. Fazia falta alguém que cantasse a vida no sertão.

Luiz gostou da ideia e a colocou em prática. O resultado veio rapidinho: em 1940, obteve a nota máxima no concurso de calouros do programa de Ary Barroso, na Rádio Tupi, tocando Vira e mexe, composição sua com ares regionais.

Daí para frente, Luiz Gonzaga começou a gravar sucesso atrás de sucesso. Mas ainda não se vestia como o “Lua” que o Brasil conheceu. A troca do figurino se deu em 1943, quando conheceu um sanfoneiro catarinense que se apresentava usando trajes típicos dos pampas. “Se ele pode, eu também posso”, pensou. E, desde então, passou a usar roupas de vaqueiro sertanejo e o inconfundível chapéu de cangaceiro. E esse apelido, “Lua”? Ele ganhou de um colega músico, por causa do rosto arredondado. Mas foi o radialista Paulo Gracindo que contou para todo o Brasil em seu programa na Rádio Nacional, em 1944.

Na década de 50, Luiz Gonzaga já era o Rei do Baião, conhecido por grandes sucessos como “Asa Branca” (“Quando olhei a terra ardendo | Qual fogueira de São João | Eu perguntei a Deus do céu, ai | Por que tamanha judiação?”). Acorde após acorde, “Lua” conseguiu abrir espaço para a cultura nordestina nas rádios, tevês e palcos de todo o Brasil, mostrando uma musicalidade vibrante, poética, orgulhosa de suas raízes.

Aliás, sabia que o trio formado por sanfona, zabumba e triângulo é uma invenção de Luiz Gonzaga? Ele percebeu que bastavam três músicos tocando esses instrumentos para animar qualquer arrasta-pé. O tipo de música que esses trios tocam é chamado de forró pé-de-serra em referência à região onde o Rei do Baião nasceu (ao pé da serra do Araripe, lembra?).

O último dos apelidos de Luiz Gonzaga, “Gonzagão”, veio na década de 1980, quando ele rodou o Brasil ao lado do filho, o também músico Gonzaguinha, com o espetáculo Vida de Viajante.

Luiz Gonzaga morreu em Recife em 2 de agosto de 1989. Ao longo de sua carreira, gravou mais de 600 músicas e teve grandes parceiros musicais, com quem compôs quase 300 canções. Botou o mundo inteiro para dançar baião, forró, xote e xaxado. E levou a cultura nordestina para o coração dos brasileiros de todo o País.

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

Comente!

Seu endereço de email não vai ser publicado. Campos marcados com * são exigidos