Reflexões sobre o ChatGPT

O ano letivo começou com uma palavrinha nova na boca de todo mundo: ChatGPT. A ferramenta, que usa inteligência artificial a partir de critérios definidos pelo usuário, pode ser usada de múltiplas formas: na tradução de textos, para responder perguntas, criar histórias, ajudar em trabalhos escolares… Mas também abre espaços sombrios, como a possibilidade de elaboração de discursos de ódio, fake news, reforço de estereótipos, citação de fontes falsas… 

Quanto mais se pensa na lista de possibilidades, mais dúvidas surgem, especialmente entre educadores: que impactos o ChatGPT vai provocar em sala de aula? Que possibilidades ele apresenta? E quais riscos e desafios? Fizemos um teste perguntando tudo isso para o próprio ChatGPT.

“O ChatGPT é um modelo de linguagem avançado que pode ser usado para ajudar estudantes a melhorar suas habilidades em diversas áreas, como redação, compreensão de leitura, tradução e até mesmo resolução de problemas. Os estudantes podem usar o ChatGPT como um recurso para melhorar suas habilidades em uma determinada área. Por exemplo, eles podem usar o ChatGPT para escrever um ensaio sobre um determinado tópico e receber sugestões para melhorar sua escrita. Ou podem usar o ChatGPT para traduzir uma frase ou um texto de uma língua para outra”.

Desafios

E o robô segue: “No entanto, o uso do ChatGPT também pode apresentar alguns desafios para os educadores. Um dos principais é garantir que os alunos estejam usando o ChatGPT de maneira ética e não copiando o trabalho de outros. Os educadores precisam orientar os alunos a usar o ChatGPT como uma ferramenta para ajudá-los a melhorar suas habilidades e não como uma solução fácil para evitar a realização de tarefas”.

“Além disso, os educadores também precisam estar cientes de que o ChatGPT pode não ser capaz de fornecer uma resposta completa ou precisa para todas as perguntas. É importante lembrar que o ChatGPT é uma ferramenta e não deve substituir o aprendizado ativo e a interação com os professores e outros alunos”. O ChatGPT ainda finaliza com o conselho para que “educadores orientem os alunos a usar a ferramenta de maneira ética e entendam suas limitações”. 

Visão crítica

São muitas as questões éticas que envolvem o ChatGPT. Uma delas diz respeito a como ele é “alimentado” para elaborar respostas. A ferramenta reproduz o que mais se fala a respeito de determinado assunto na internet. Assim, pode acabar reproduzindo, reforçando e retroalimentando notícias falsas, enviesadas ou discursos de ódio.

Algumas instituições, como as escolas públicas de Nova York, têm visto mais problemas do que benefícios no uso da ferramenta e proibiram seu uso. A pesquisadora e fundadora do Instituto EducaDigital, Priscila Gonsalez, enxerga um deslumbramento em torno da novidade e recomenda cautela e reflexão antes de se pensar em como usá-la em sala de aula.

“O deslumbramento é uma armadilha para educadores e gestores da educação, pois acaba deixando de lado o letramento digital crítico em relação às tecnologias. Toda tecnologia embute um poder por trás, poder de quem a criou e quer vê-la sendo cada vez mais usada. Simplesmente levá-la para a escola significa dar anuência para que dados de estudantes sejam utilizados por empresas com finalidade de lucro”, observa a especialista.

Ela sugere que se entenda mais sobre o ChatGPT antes de pensar em levá-lo para as escolas. “Trata-se de uma decisão que deve ser institucional, requer ampla compreensão sobre como esse tipo de tecnologia opera, para poder considerar riscos e benefícios. Acho bastante precoce apontar ‘boas possibilidades’ (de uso na educação) justamente porque não acredito que toda e qualquer tecnologia deva ser utilizada em sala de aula simplesmente por ser uma novidade”, pondera.

Reflexões

Priscila lembra que toda vez que experimentamos tecnologias digitais que funcionam a partir da inteligência artificial baseada em dados, como o ChatGPT, estamos trabalhando para a empresa testar e aperfeiçoar seu produto. “Nossos dados e metadados estão sendo utilizados de uma forma pouco transparente”, alerta. 

Mas a diretora do Instituto EducaDigital destaca que todo o barulho em torno do ChatGPT abre a oportunidade de estimular debates e reflexões com docentes e estudantes. A coordenadora do EducaMídia, Daniela Machado, complementa que essa visão crítica precisa ser uma preocupação constante quando se fala de inovações tecnológicas. 

“Polêmicas à parte, há um papel essencial que continua – e continuará – nas mãos dos seres humanos: o de analisar criticamente qualquer informação, refletindo sobre a origem e a intenção de cada mensagem que recebemos – seja ela produzida por inteligência artificial ou por uma pessoa de carne e osso. Esse é um debate que precisa acompanhar toda inovação tecnológica”, defende Daniela Machado, ressaltando que a educação digital não deve se restringir ao ensino de como usar ferramentas tecnológicas, como o ChatGPT, mas especialmente como lidar com elas de forma reflexiva e responsável.

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Apesar das diferentes opiniões sobre o ChatGPT, uma coisa é certa: ele não pode ser ignorado. Que tal, então, experimentá-lo? 

Pense em algum tema que seus estudantes estejam trabalhando no momento e faça uma pergunta sobre ele. Veja que tipo de resposta o ChatGPT oferece. Em seguida, use uma ferramenta de busca com a qual esteja habituado e faça uma pesquisa que responderia à mesma questão. Observe a forma como os resultados são entregues, em que medida diferem e analise-os. 

Depois da sua experiência, é hora de replicá-la com seus estudantes. Junto com eles, avalie os resultados obtidos. Comente sobre os riscos de respostas incorretas, sobre a importância de se conhecer as ferramentas às quais recorrem para complementar as pesquisas escolares e sobre possíveis problemas que possam decorrer do uso irrefletido do que aparece como novidade do mundo virtual.  

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