Conversando sobre ataques violentos às escolas

No dia 27 de março de 2023, um adolescente de 13 anos esfaqueou colegas e professores na escola onde estudava, na Zona Oeste de São Paulo, matando uma professora. Esse ataque brutal infelizmente não foi um episódio isolado. No dia seguinte, outro adolescente de 15 anos foi apreendido no Rio de Janeiro ao tentar ferir uma colega com faca.

De acordo com os dados do relatório “O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental”, organizado por Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, os eventos de violência nas escolas brasileiras começaram na primeira década dos anos 2000. Antes desse período, não havia registro desse tipo de ataques.

Em uma pesquisa realizada por Cléo Garcia, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e citada no portal Lunetas, de 2002 até o início deste ano foram registrados 23 casos de ataques violentos em escolas – todos eles praticados por alunos e ex-alunos das escolas, com idade entre 10 e 25 anos, sendo 82% em instituições públicas. Entre as vítimas fatais, 24 estudantes, 4 professores e 2 profissionais da educação.

Sabe o que é mais preocupante? De agosto de 2022 para cá, houve um aumento da frequência desses fenômenos, com mais de um ataque por mês.

O perfil dos agressores

Em entrevista ao podcast “O Assunto”, a pesquisadora Talma Vinha explicou que há um perfil comum aos alunos e ex-alunos agressores.

Em geral, eles são do sexo masculino, brancos, jovens, misóginos, “vivenciaram bullying”, apresentam “sinais de transtornos psiquiátricos”, têm “gosto por violência”, obsessão por armas de fogo e agressividade contra mulheres, negros e grupos menorizados. Além disso, a maior parte deles integra grupos virtuais com temas supremacistas e violentos.

Segundo Talma, vários fatores de “adoecimento psíquico” atingiram esses jovens: empobrecimento pós-pandemia, falta de acesso a lazer e cultura e “nenhuma perspectiva de futuro”. Isso tudo, combinado a um aumento da cultura de violência, tem potencial altamente destrutivo.

Como enfrentar o problema? Sugestões de especialistas

Diante da gravidade do cenário e da complexidade de suas possíveis soluções, compartilhamos com vocês, estudantes, pais e educadores, os protocolos estabelecidos por especialistas sobre como podemos nos comportar em episódios de ataques a escolas. As informações foram retiradas da Nota Técnica 15, de 28 de março de 2023, publicada pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP.

  • Não amplificar a divulgação de vídeos, fotos e manifestos. Isso aumenta o status intragrupo do agressor e incide no potencial de imitadores a curto e longo prazo;
  • Não compartilhar ou divulgar as queixas do agressor. Quando essas queixas são difundidas, outros indivíduos podem se identificar com elas e passar a acreditar que o extremismo violento foi uma resposta adequada;
  • Não nomear o agressor. Nas subculturas extremistas online, os jovens buscam notoriedade alcançando um número de vítimas maior do que o de algum outro agressor cultuado. Quanto maior o número de vítimas, maior o status intragrupo. E, quanto maior for a notoriedade de seu nome social e/ ou apelido, mais aumenta a percepção de recompensa, tanto para o agressor quanto para outros indivíduos que estão sendo radicalizados nessas subculturas.

Sinais de alerta

Confira a seguir os sinais de alerta para prevenção e intervenção (em negrito os marcadores mais preocupantes e que indicam intervenção urgente).

  • Crenças em teorias conspiratórias que sugerem um declínio da população branca e/ ou de homens e que sugerem também como fator desse declínio outros grupos como negros, mulheres, judeus, LGBTQIA+, imigrantes e grupos minoritários;
  • Produção e/ou compartilhamento de conceitos associados ao racismo científico como realismo racial e “biodiversidade humana”;
  • Consumo e disseminação de conteúdos com violência extrema/atentados terroristas e tiroteios em massa;
  • Isolamento social;
  • Fixação em temas relacionados a armamentos e guerra;
  • Discursos e disseminação de conteúdos nos quais existem teorias conspiratórias de que um grupo oculto estão controlando toda a sociedade;
  • Crença de que a violência é a única solução para as suas demandas;
  • Ameaças verbais ou escritas de realização de ações violentas extremas.

Quando eventos tão chocantes acontecem, há uma tendência de apontar culpados para aplacar o sentimento de insegurança que nos invade. Mas a gente sabe bem que o problema é complexo e que há muitos aspectos em jogo por trás desses agressores. No entanto, a solução, esta sim, é responsabilidade coletiva e só pode ser encontrada com o envolvimento de todos – família, escola, Estado, mídia e cada um de nós.

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3 Comentário(s)

  • by Maria martins postado 06/04/2023 09:05

    Muito esclarecedor

    • by Turma do Plenarinho postado 10/04/2023 11:41

      Que bom que gostou, Maria. Abraços da Turma.

  • by alice migott savenhago postado 11/04/2023 13:17

    eu achei muito ruim este caso. Vocês dirão para o ladrão assim: Ladrão, por que você matou as quatro crianças

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