Como uma mulher negra, filha de escravizados libertos, conquista seu lugar em espaços predominantemente ocupados por homens brancos vindos de famílias ricas? Com muita coragem, persistência e, às vezes, uma arma na cintura.
Esta é a história de Enedina Alves Marques, a primeira engenheira negra do Brasil, e a primeira mulher engenheira do Sul do País.
Nascida em Curitiba/PR em 13 de janeiro de 1913, Enedina era Dininha, filha da lavadeira Virgília, a Dona Duca, e do lavrador Paulo. O casal havia saído do campo e se fixado há pouco tempo na cidade, em busca de trabalho, após o fim da escravidão.
Com os filhos ainda pequenos, Dona Duca foi abandonada pelo marido. Ela então se mudou com a criançada para a casa do delegado e major Domingos Nascimento Sobrinho, para trabalhar como doméstica. O militar tinha uma filha da mesma idade que Enedina, Isabel, e pagou os estudos da Dininha para que as duas meninas fossem companheiras na escola.
Enedina alfabetizou-se aos 12 anos, em 1925. No ano seguinte, junto com Isabel, deu continuidade aos estudos, formando-se professora normalista em 1931.
Naquele tempo, ser professora já era bem mais do que uma moça negra poderia sonhar para seu futuro. E, por um tempo, Enedina seguiu satisfeita, dando aulas no interior do estado do Paraná.
Mas, em 1935, precisou voltar à Curitiba, e aos bancos escolares, para completar a sua formação. Um decreto federal publicado naquela época determinava que, para poderem dar aulas, os educadores deveriam fazer um curso de capacitação profissional – o Madureza -, seguido de um complementar para ingresso em um curso superior.
Ela passou a morar na casa da família do construtor Mathias Caron em troca de prestar serviços domésticos. Para pagar os estudos, dava aulas em escolas da vizinhança. Conseguiu formar-se no Madureza em 1937 e, no ano seguinte, iniciou o curso complementar que mudaria a sua vida: Pré-Engenharia. A partir daí, ela já sabia aonde queria chegar. O problema seria a dura caminhada até lá.
Enedina ingressou na Faculdade de Engenharia do Paraná em 1940. Não bastasse o desafio que era pagar a mensalidade do curso – o equivalente a 1 salário mínimo, em valores de hoje -, ainda havia a hostilidade e a discriminação por parte de professores e alunos. Mulher, pobre e negra, ela não tinha nada a ver com os colegas – e eles faziam questão de lembrá-la disso.
Contra tudo e todos, Enedina se formou em Engenharia Civil em 1945. No ano seguinte, começou a trabalhar como auxiliar de engenharia na Secretaria Estadual de Transportes e Obras Públicas. Mas ela brilhou, mesmo, quando foi transferida para a Secretaria Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná, em 1947.
Ali, contribuiu com projetos de grande porte, como o levantamento topográfico e a construção da maior hidrelétrica subterrânea do Sul do País, a Usina Capivari-Cachoeira. Trabalhou em obras que melhoraram o aproveitamento hídrico das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Também teve papel fundamental na elaboração do Plano Hidrelétrico do Paraná.
A competente Enedina chefiou muitos engenheiros e técnicos ao longo de sua carreira. Nos canteiros de obra, deixava a vaidade de lado e vestia o macacão, com um revólver preso à cintura. Dizem que, de vez em quando, dava uns tiros para o alto para ser levada a sério pelos operários que trabalhavam ali.
Enedina se aposentou na década de 1960. Em reconhecimento à sua importância para a independência energética do Paraná, o governador do estado concedeu-lhe proventos equivalentes aos de uma juíza.
A filha de Dona Duca foi uma mulher elegante, culta e viajada. Adorava perucas e casacos de pele. Não se casou, nem teve filhos. Foi encontrada morta em seu apartamento em agosto de 1981, aos 68 anos, vítima de um infarto. Mas segue encorajando, com seu exemplo, meninas e meninos que sonham alto.
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4 Comentário(s)
9 10 2023
oi eu gostei muito das revistas do plenarinho elas alem de ensinar são muito legais e todas as vezes que eu vou ler eu fico muito consentrada
oi, eu sou a kamilly e tenho 10 aninhos e gosto muito das revistas de voces e aprendi muitas coisas como seguir regras muito obrigada por me ensinar essa coisas
Oi de novo, Kamilly! Que bom ter você como nossa leitora! Abraços da Turma!
Que legal, Kamilly! Abraços da Turma!
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