Não é de hoje que sabemos que mulheres que desafiaram convenções e papéis sociais foram apagadas da História do Brasil. Felizmente, graças ao trabalho de pesquisadoras e pesquisadores, suas vidas começam a vir à luz.
É o caso de Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, mineira de São João Del Rei, nascida em 3 de dezembro de 1759.
Filha de aristocratas e descendente do famoso bandeirante paulista Amador Bueno, foi educada com refinamento. Em um tempo em que as mulheres sequer eram alfabetizadas, ela não só conheceu as letras como se tornou poeta – possivelmente, a primeira que se tem registro no Brasil.
Casou-se em 1781 – e até nisso esteve à frente de seu tempo. O casamento aconteceu depois de o casal já morar junto há três anos e ter uma filha. E quem era o marido? O ouvidor da comarca de Rio das Mortes, o advogado e poeta Alvarenga Peixoto.
Se o nome soou familiar, não é sem motivo: Alvarenga Peixoto entrou para a História como um dos líderes da Inconfidência Mineira (sabe a inscrição em latim na bandeira de Minas Gerais? Dizem que ele é o autor).
A residência do casal era um dos locais de encontro dos inconfidentes. E, segundo os estudiosos do assunto, Bárbara era participante ativa das reuniões, o que faz dela a primeira ativista política conhecida no nosso país. Mas não há evidências históricas disso – ao serem descobertos, os inconfidentes protegeram suas famílias e nada disseram sobre a participação de suas companheiras. Assim, os registros de suas confissões não mencionam mulheres.
Quando os revoltosos começaram a ser perseguidos pela Coroa Portuguesa, Bárbara se manteve firme. Num momento de desespero, o marido admitiu pensar em entregar os companheiros para aliviar a própria pena, ao que ela respondeu: “Antes a miséria, a fome, a morte, do que a traição!”.
O preço por lutar pela liberdade foi alto. Alvarenga Peixoto foi julgado, condenado e deportado para Angola, onde morreu pouco tempo depois, em 1792. Os bens da família foram parcialmente confiscados pela Coroa Portuguesa (e posteriormente recuperados pelo compadre e amigo da família, o contratador João Rodrigues de Macedo, que os arrematou em um leilão, tornando-se sócio de Bárbara nos negócios).
Em 1797, Bárbara sofreu mais um golpe – perdeu a filha mais velha, Maria Ifigênia, que morreu após cair do cavalo durante uma viagem. Como suportar tanta dor? Ela se agarrou aos filhos, ao trabalho e à poesia.
Até o fim da vida, Bárbara seguiu comandando as atividades de mineração e agricultura em suas propriedades em São Gonçalo do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais. Ela morreu de tuberculose em 24 de maio de 1819, sendo sepultada na Igreja Matriz da cidade, com toda a pompa reservada às pessoas importantes daquele tempo.
Esquecimento e reparação
Cerca de 100 anos após a morte de Bárbara Heliodora, a Igreja Matriz foi demolida e os restos mortais ali depositados foram transferidos para o cemitério da cidade, enterrados em vala comum, sem identificação.
Mas, em 2019, graças ao trabalho de historiadores, a importância histórica de Bárbara Heliodora foi enfim reconhecida. Recebeu o título de cidadã in memoriam pela Câmara Municipal de Ouro Preto. Seus despojos – representados por uma porção de terra do local onde foi sepultada – foram levados ao Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, para finalmente juntar-se aos outros heróis do movimento.
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