Conversando com crianças e jovens sobre alimentação saudável

Já reparou como a alimentação pode ser um motivo de confusão nas reuniões de família? Sempre há quem critique aqueles que “só dão porcaria para as crianças” e quem considere uma maldade “privar os pequenos de tudo que é gostoso”. No meio dessa bagunça, estão, claro, as crianças e adolescentes — e os alimentos ultraprocessados.

Liberar o consumo desse tipo de alimento pode ser uma forma de evitar conflitos na hora da refeição, especialmente com crianças mais seletivas. Pelo menos elas estão comendo, certo? E, quando crescerem, talvez aprendam mais sobre saúde e nutrição. Mas e os prejuízos à saúde até lá? Os casos de obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2 já estão aumentando entre os pequenos.

Por outro lado, proibir esses alimentos pode até funcionar enquanto a criança está sob sua supervisão. Mas, se ela não entender o motivo para evitar certos produtos, a primeira oportunidade que tiver sem a sua presença pode ser usada para exagerar em tudo aquilo que não entra em casa.

Então, qual é o melhor caminho? Proibir tudo? Liberar tudo? E se, em vez disso, estimulássemos um caminho de conscientização? Ensinar as crianças a conhecer, questionar e, assim, fazer escolhas melhores com base em uma visão crítica?

Evitar completamente os ultraprocessados pode ser um desafio. E será ainda mais difícil se esses alimentos se tornarem um tabu.

Apresente as ‘pegadinhas’ do marketing

Desenhos coloridos, personagens divertidos, nada disso é por acaso nas embalagens e comerciais de ultraprocessados. O objetivo é despertar a simpatia das crianças e fazê-las sentir que aquele alimento foi feito para elas. Mas ter uma comunicação voltada ao público infantil não necessariamente significa que um produto é nutricionalmente adequado para essa fase da vida. Pode ser apenas tática para impulsionar as vendas entre aqueles que ainda não têm capacidade de questionar tais informações.

A situação fica ainda mais complicada quando esses produtos são associados a influencers e ídolos infantojuvenis nas famosas ‘publis’. A estratégia aí é vender mais se aproveitando do desejo da garotada de ser como as pessoas que admiram, imitando seu estilo de vida e hábitos de consumo.

É saudável ou é greenwashing?

O greenwashing ocorre quando empresas utilizam práticas de marketing para parecerem mais sustentáveis ou saudáveis do que realmente são, sem um compromisso genuíno com essas causas.

No setor de alimentos, isso pode se manifestar de várias formas:

  • Rótulos enganosos: Termos como “natural”, “orgânico”, “light” ou “sem adição de açúcar” podem ser usados para dar a impressão de que o produto é saudável, mesmo que ele contenha ingredientes prejudiciais ou seja excessivamente processado.
  • Design e embalagens: O uso de cores verdes e imagens de natureza nas embalagens pode sugerir que o produto é sustentável ou saudável, quando, na verdade, não oferece esses benefícios.
  • Apoio superficial a causas ambientais: Algumas marcas se envolvem em campanhas de sustentabilidade apenas como estratégia de marketing, sem mudar significativamente suas práticas.

Explique os rótulos

Rótulos são um prato cheio para quem quer entender o que está levando à mesa.

Para começar, vale a pena ler a lista de ingredientes e entender o que foi adicionado ao ultraprocessado para que ele seja como é. Chame a galera e, juntos, identifiquem corantes (afetam a aparência), espessantes, estabilizantes e umectantes (deixam a textura mais agradável), conservantes (prolongam a vida útil), aromatizantes e saborizantes (melhoram cheiro e sabor).

Depois, vejam a ordem em que os ingredientes aparecem. Sabia que eles são listados em ordem decrescente de quantidade? Assim, se o primeiro item da lista for açúcar, isso significa que ele é o ingrediente em maior quantidade no produto.

E os selos de alerta? Eles estão lá por um bom motivo: indicar que o alimento deve ser consumido ocasionalmente, e com moderação, pois contém altos níveis de gordura, açúcar, sal ou uma combinação desses.

Além disso, os rótulos também informam se o produto contém ingredientes que podem causar alergias ou serem tóxicos a algumas pessoas, algo fundamental para garantir a segurança alimentar.

Entenda os riscos à saúde

O consumo excessivo de ultraprocessados está associado a diversos problemas de saúde física e mental. Vale a pena reunir as crianças para pesquisar mais sobre o tema. Nosso texto dá uma visão geral, mas há muitas notícias e estudos disponíveis.

Vamos fazer escolhas melhores?

Que tal fazer um exercício prático? Peça às crianças que criem cartazes com imagens de comidas que elas gostam — como frutas, sucos, pães, bolos simples, sorvetes, hambúrgueres, cachorro-quente, refrigerantes, entre outros. Depois, peça para separarem esses alimentos em três grupos: “comer sempre”, “comer com moderação” e “evitar”. A ideia é fazer isso rapidamente. Em seguida, conversem sobre a classificação de cada alimento e as razões por trás dessas escolhas. Terminem a atividade combinando um lanche – de preferência, com comidas dos dois primeiros grupos!

Mão na massa!

Uma das formas mais eficazes de apresentar novos alimentos às crianças e adolescentes é envolvê-los no preparo. Isso não só os ajuda a explorar novos sabores, como também lhes dá autonomia para fazer escolhas melhores na alimentação — afinal, quem precisa recorrer a pacotes industrializados quando pode preparar o próprio lanche? Além disso, cozinhar é uma habilidade que levamos para a vida toda.

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