A baronesa que amava o solo

Em um castelo, num país distante, nasceu uma menina de sangue nobre com um poder especial – com um toque de suas mãos, tudo brotava.

Parece um conto de fadas, mas essa mulher realmente existiu. Nascida na Áustria em 3 de outubro de 1920, a baronesa Annemarie Conrad ficou mais conhecida como Ana Maria Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil.

O interesse pela terra começou cedo, por incentivo de seu pai, que acreditava que as crianças deviam aprender de tudo – inclusive, cultivar uma horta! Boa aluna como era, Annemarie aprendeu direitinho. 

Além de boa aluna, ela era muito determinada. Para ingressar na Universidade Rural de Viena, precisou passar quase um ano em um campo de trabalhos braçais (era uma exigência feita a todos os estudantes naquela época). O serviço era duro, a comida era pouca, mas Annemarie superou esse desafio.

Foi uma das três alunas, numa turma de cem estudantes, a entrar no curso de Ciências Agronômicas da Universidade. Ali, se apaixonou pelo solo ao entender seu papel fundamental para a saúde das plantas. Também se encantou por um colega dois anos mais velho, Artur Primavesi, com quem futuramente se casaria. 

Em solo brasileiro

Em 1948, Annemarie virou Ana Maria. Chegou no Brasil com o marido e um bebê em busca de um novo começo. Na bagagem, seus diplomas de graduação, mestrado e doutorado em Agronomia; as profundas cicatrizes da Segunda Guerra Mundial, que ceifou a vida de dois irmãos e de incontáveis parentes, forçados a ir para os campos de batalha defender a Alemanha nazista; e a ‘garra’ que a acompanhou por toda a vida.

Em 1962, Ana e Artur se tornaram professores do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Com uma didática capaz de transformar os conceitos mais complexos em conhecimentos acessíveis a qualquer agricultor, Ana deu aulas até 1974. Ensinou gerações de profissionais a entenderem o solo como um organismo vivo, que interage de diferentes formas com as plantas. Foram os primeiros passos da Agroecologia no País.

Mãos na terra

Em 1977, quando enviuvou, Ana decidiu aplicar na prática os conhecimentos que ensinava em sala de aula. Comprou uma fazenda em Ijuí/SP e recuperou o seu solo, muito degradado. A iniciativa foi tão bem sucedida que choviam convites para eventos, congressos e palestras, que ela atendia com alegria.

Em 2012, aos 92 anos, Ana se aposentou de vez dos muitos anos de trabalho duro e foi morar com a filha em São Paulo. Ela faleceu em 5 de janeiro de 2020, aos 99 anos, deixando filhos, netos e bisnetos. Mas as sementes que plantou seguem germinando por todo o Brasil.

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