Era assim que o chamava o escritor Ariano Suassuna. Mas não pense que é elogio exagerado de amigo – J. Borges é, de fato, um dos nomes mais importantes da xilogravura e da literatura de cordel de todo o Brasil. Seu nome está gravado (com o perdão do trocadilho) na cultura popular pernambucana.
J. Borges nasceu em Bezerros, no agreste pernambucano, em 4 de agosto de 1935. O pai,agricultor, foi quem o apresentou ao cordel, embalando o sono do menino com histórias rimadas, lidas dos cordéis comprados nas feiras.
Como era comum naquele tempo, desde os oito anos J. Borges trabalhava para ajudar a família. Estudar, mesmo, só por 10 meses, quando já tinha 12 anos. Ainda assim, aprendeu a ler, escrever, fazer conta e criar histórias.
Conforme foi crescendo, fez de tudo, um pouco: foi carpinteiro, pintor de paredes, pedreiro, vendedor… mas gostou mesmo de vender folhetos, como eram chamadas as obras de cordel.
De tanto apreciá-los, decidiu seguir o conselho do amigo e poeta Olegário Fernandes, e escrever os próprios cordéis. O primeiro foi “O encontro de dois vaqueiros no sertão de Petrolina”, ilustrado por mestre Dila, cordelista e xilogravador. Foi um enorme sucesso: cinco mil exemplares vendidos em apenas dois meses!
A partir daí, J. Borges não parou mais. E, para não depender de outros artistas, passou a fazer xilogravuras para as capas de suas obras.
J. Borges criou mais de 300 obras de cordel. Também se tornou um xilogravador muito reconhecido nas artes plásticas, criando gravuras de grande beleza, que retratavam o folclore e a cultura nordestinas.
Reconhecimento
J. Borges expôs dentro e fora do Brasil e ministrou oficinas em mais de 20 países. Foi condecorado com a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, recebeu o Prêmio UNESCO na categoria Ação educativa/cultural, recebeu medalha de Honra ao Mérito da Fundação Joaquim Nabuco e tornou-se Patrimônio Vivo de Pernambuco.
Viveu para ver a arte que tanto amou se tornar Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, em 2018, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Morreu em sua cidade natal em 26 de julho de 2024.
Você sabia?
- J. Borges e Ariano Suassuna eram grandes amigos. Ariano era fã declarado do xilogravador e o apresentou a muitos artistas dentro e fora do Brasil.
- A arte de J. Borges já fez bonito em capas de livros de grandes autores, como Eduardo Galeano e José Saramago, e até em abertura de telenovela (Roque Santeiro, em 1975)!
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