No início de abril de 2025, o Brasil se chocou com mais uma morte relacionada a um desafio virtual. A vítima da vez foi Sarah Raíssa Pereira de Castro, de apenas 8 anos, que morreu após inalar desodorante em aerossol tentando realizar um desafio que circulava na internet.
Os números assustam: de acordo com o Instituto DimiCuida*, citados pela coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta, Mariana Mandelli, 56 crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos morreram ou se feriram gravemente no Brasil ao participar dessas ‘brincadeiras’. Imagine se fossem considerados os casos que não necessitaram de hospitalização e que, por isso, não chegaram a ser notificados!
Considerando o acesso precoce da meninada às redes sociais, a conscientização sobre os riscos dos desafios virtuais é necessária e urgente.
O que são desafios virtuais perigosos
Reproduzidos de forma viral nas redes sociais, os desafios virtuais perigosos são práticas que, à primeira vista, parecem inofensivas e divertidas, mas que podem trazer graves prejuízos à saúde.
Desafio da canela em pó, da pimenta, do desodorante, do desmaio, da rasteira…é só pesquisar para encontrar notícias de acidentes graves e até fatais que vitimaram crianças e adolescentes que ‘só estavam brincando’.
Até quando é boato, faz mal
Há um outro tipo de desafio virtual perigoso que, até o momento, só existiu como boato. Nele, um personagem (ou grupo) convida pessoas para participar de um jogo. As tarefas que precisam ser executadas começam inofensivas, mas depois de um tempo culminam em automutilação e suicídio.
O primeiro desafio desse tipo de que se teve notícia foi o “Jogo da Baleia Azul”, em 2015. Anos depois, foi a vez de a “Boneca Momo” e o “Homem Pateta” assombrarem a web com seus desafios mortais.
Embora tenham sido apenas boatos, esses desafios também causaram problemas – foram notificados diversos casos de crianças e adolescentes que se machucaram e até provocaram a própria morte, com a alegação de que estavam participando do jogo.
Por que os desafios perigosos atraem tanto a meninada?
Vários motivos tornam as crianças e jovens mais suscetíveis a participar dessas ‘brincadeiras’:
- Curiosidade e impulsividade, tão típicas dessa faixa etária;
- Desejo de demonstrar coragem;
- Pressão dos grupos em que estão inseridos (“todo mundo está fazendo, vai ficar de fora?”)
- No caso dos desafios de sufocamento, curiosidade em relação às breves sensações de euforia e consciência alterada causadas pela falta de oxigenação no cérebro.
“Mas tanta gente já fez esse desafio e não aconteceu nada!”
Cada organismo é único e pode reagir de forma diferente a um mesmo estímulo. A brincadeira que causou um desconforto passageiro num influencer adulto pode levar alguém menor e mais jovem ao hospital – ou, pior ainda, à morte.
Como evitar que mais crianças e jovens sejam vítimas dos desafios?
Conscientização: é preciso que crianças e jovens entendam os riscos envolvidos nessas brincadeiras aparentemente inocentes, mas que podem acabar mal. Uma boa ideia é pesquisar juntos notícias sobre o tema e trocar impressões.
Acompanhamento: crianças de até 10 anos devem contar com a mediação de um responsável ao acessar internet e redes sociais. Afinal, elas não têm maturidade suficiente para avaliar se um conteúdo é real, inofensivo ou adequado à sua idade.
Pré-adolescentes e adolescentes já pedem um uso mais autônomo. Mas isso não quer dizer deixá-los à própria sorte – é preciso acompanhar o que eles têm visto e feito na internet, nos jogos online e nas redes sociais. Uma boa opção é estabelecer junto com eles combinados sobre o assunto.
Escuta e diálogo: um dos motivos para que crianças e jovens se arrisquem em desafios virtuais perigosos é a ânsia por pertencer a um grupo, parecer descolado, provar o próprio valor. Essa necessidade, tão comum nessa idade, pode se tornar opressora e causar muito sofrimento.
Como estão se sentindo? Como se percebem e encaram o mundo ao seu redor? Quem está em seu círculo de amigos? É preciso estimulá-los a falar sobre isso abertamente, criando um espaço de confiança e escuta.
Acolha os sentimentos sem julgar. Em vez disso, provoque reflexões e questionamentos: se meu grupo quer que eu faça algo que pode me prejudicar, vale a pena pertencer a ele? Será que me arriscar em um desafio sem pé nem cabeça pode, mesmo, provar alguma coisa?
Por fim, que tal incentivá-los a criar desafios positivos, que possam trazer benefícios reais? Que tal um desafio para doar cabelo a instituições que produzem perucas para pacientes com câncer? Ou arrecadar brinquedos para crianças em orfanatos? Ou, ainda, recolher o lixo espalhado na praia ou na pracinha?
Para quem quer mais orientações sobre como ajudar a meninada a desenvolver uma relação saudável e equilibrada com as telinhas, vale a pena acessar “Crianças, adolescentes e telas – Guia sobre usos de dispositivos digitais”, lançado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República em março de 2025.
* DimiCuida é uma entidade sem fins lucrativos que combate brincadeiras digitais arriscadas. Ele foi criado por Demétrio Jereissati, pai de Dimitri, um rapaz de 16 anos que morreu praticando o “jogo do desmaio”.
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1 Comentário
BOM SABER PARA TOMAR MAIS CUIDADO COM DESAFIO DA INTERNET
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