Virgínia Bicudo

Ilustração de fundo em tons de rosa. Em destaque, no centro da imagem, aparece uma mulher negra de cabelos curtos e cacheados e veste blusa azul.

Talvez você ainda não tenha ouvido falar dela, mas deveria: Virgínia Leone Bicudo foi a primeira psicanalista não-médica do Brasil, e uma pioneira no estudo das relações sociais e do racismo no País.

Nascida em São Paulo no dia 21 de novembro de 1910, neta de uma mulher escravizada alforriada e filha de uma imigrante italiana, ela buscou na ciência defesas para lidar com o racismo.

O primeiro contato com o preconceito racial deu-se quando ainda era menina. Pequena, ela ficava apenas com a família e era chamada de Virgínia. Mas, ao começar a frequentar a escola e conviver com outras crianças, teve um choque – passou a ser ‘negrinha’, e sua cor tornou-se motivo para discriminação.

“Não foi por acaso que procurei psicanálise e sociologia. Veja bem o que fiz: eu fui buscar defesas científicas para o íntimo, o psíquico, para conciliar a pessoa de dentro com a de fora. Fui procurar na sociologia a explicação para questões de status social. E, na psicanálise, proteção para a expectativa de rejeição. Essa é a história”, disse Virgínia, em uma entrevista de 1998.

De educadora sanitária a psicanalista

Virgínia formou-se em Educação Sanitária em 1935 e, em seguida, matriculou-se na recém-criada Escola Livre de Sociologia e Política. Era a única mulher da turma. No segundo ano do curso, conheceu a psicologia social e Sigmund Freud. Foi o suficiente para despertar o desejo de se tornar psicanalista. Procurou, então, quem pudesse ensiná-la mais sobre o assunto, e chegou ao professor Durval Marcondes, que em 1927 havia fundado a Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Recém-formada em Sociologia, ela iniciou uma parceria com Marcondes na própria Escola Livre, lecionando disciplinas de higiene mental e psicanálise. Em 1937, candidatou-se a membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), sendo aprovada como membro efetivo em 1945. Naquele momento, ela se tornou primeira psicanalista sem formação médica no Brasil.

Tal pioneirismo não se deu sem resistência: muita gente lutou contra a entrada de Virgínia nesse seleto grupo. Chamaram-na de charlatã e desmereceram seu trabalho. Mas ela não se deixou abater e seguiu em frente, divulgando e difundindo a psicanálise no Brasil.

Extrovertida e comunicativa, ela chegou a ter um programa de rádio onde tratava de temas como inconsciente, inveja, agressividade, ciúmes, amor e ódio, tudo em forma de radioteatro.

O tempo passou e, em 1962, as mesmas pessoas que a rejeitaram antes, a elegeram diretora do Instituto de Psicanálise da SBPSP. E ela permaneceu no cargo por 14 anos!

Estudos sobre o racismo

Em 1942, Virgínia começou um mestrado na Escola Livre de Sociologia e Política. Com a dissertação “Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo”, primeira sobre o tema defendida no Brasil, ela mostrou que, mesmo quando as diferenças sociais diminuem, o preconceito racial permanece.

Virgínia Bicudo foi uma das figuras mais importantes na implantação e desenvolvimento da psicanálise no Brasil. Ela manteve o trabalho clínico e o envolvimento com a área da psicanálise até três anos antes de seu falecimento, em 2003.

Com informações da Revista Galileu e do portal Huffpost Brasil

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