Brasileira, feminista e negra

Professora, filósofa e antropóloga, Lélia Gonzalez foi uma das principais feministas brasileiras – e uma das primeiras a apontar as relações entre gênero, raça e classe social. Ela explicou como as desigualdades sociais e o machismo atingem de forma ainda mais cruel as mulheres negras, destacando inclusive os impactos sobre sua saúde mental.

Provocadora, ela buscava uma linguagem simples para apresentar seu pensamento. Criticava os lugares reservados aos negros na sociedade (a mulata, a doméstica, a mãe preta, o incapaz, o malandro, etc.) e explicava a importância de eles mesmos falarem sobre sua condição. Além disso, Lélia destacava como os negros foram fundamentais para a construção da cultura brasileira, incluindo a nossa língua, que ela chamava de “pretuguês”.

Nascida em Belo Horizonte em 1º de fevereiro de 1935, Lélia Gonzalez se mudou com a família para o Rio de Janeiro ainda criança. “A gente tinha acabado de perder o nosso pai, eu fui babá de filhinho de madame. Você sabe que criança negra começa a trabalhar muito cedo. Teve um diretor do Flamengo que queria que eu fosse para a casa dele ser uma empregadinha, daquelas que viram cria da casa. Eu reagi muito contra isso, então o pessoal terminou me trazendo de volta para casa”, contou Lélia ao jornal O Pasquim, em 1986 (o irmão de Lélia, Jaime de Almeida, foi jogador do Flamengo).

Aquela menina determinada encarou inúmeras dificuldades, mas fez graduação em História e Filosofia, mestrado em Comunicação Social e doutorado em Antropologia Social. Tornou-se professora, chefiou o departamento de Sociologia e Política da PUC-RJ e ajudou a fundar instituições como o Movimento Negro Unificado, o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras, o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga e o Olodum. Fez parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e se candidatou em duas eleições (1982 e 1986), conquistando a suplência em ambas.

Lélia morreu no dia 11 de julho de 1994, vítima de um infarto. Mas a força de seus pensamentos ganha cada vez mais visibilidade. Para se ter uma ideia do impacto de suas ideias, em visita ao Brasil em 2019, a filósofa e militante estadunidense Angela Davis instigou a plateia lotada: “Sinto como se me vissem representando o feminismo negro. Por que vocês precisam olhar para os Estados Unidos? Não entendo. Eu acho que aprendi mais com Lélia González do que vocês poderão aprender comigo”.

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