Uma história de pioneirismo e recordes

Ilustração de uma mulher saindo da água com os dois braços erguidos do lado do corpo. Ela veste maiô rosa e está com a boca semi aberta.

A nadadora Maria Lenk teve uma vida marcada pelo pioneirismo. Em uma época em que as mulheres quase não tinham espaço nem voz, ela abriu caminhos. Foi a primeira mulher sul-americana a participar de uma Olimpíada (1932); a primeira mulher a nadar borboleta em Jogos Olímpicos (1939); bateu os primeiros recordes mundiais da natação brasileira (200m e 400m peito – 1939); foi a primeira mulher a dirigir uma faculdade de Educação Física na América do Sul; foi a única atleta brasileira a receber a Ordem do Mérito Olímpico (honraria concedida pelo Comitê Olímpico Internacional aos maiores atletas de todos os tempos); além de conquistar dezenas de recordes mundiais ao longo de toda a sua vida.

Nascida em 15 de janeiro de 1915, a paulista começou a nadar na infância para fortalecer seus pulmões, depois de ter uma pneumonia. É até difícil de imaginar, mas as primeiras braçadas de Maria Lenk foram nas águas do Rio Tietê, que na época eram super limpas e abrigavam várias competições de natação e de remo. Por quatro vezes seguidas, ela foi campeã da Travessia de São Paulo a Nado (1932-1935), uma tradicional prova de natação de 5,5 km.

Ser uma atleta profissional é um desafio e tanto, mas naquela época era ainda mais difícil. Em 1941, um decreto do presidente Getúlio Vargas organizava os esportes no país e proibia às mulheres a prática de modalidades “incompatíveis com as condições de sua natureza”. Apesar disso, Maria Lenk conseguiu integrar uma delegação de nadadores sul-americanos que excursionou pelos Estados Unidos (era a única mulher neste grupo). Lá, a brasileira quebrou 12 recordes estadunidenses e concluiu o curso de Educação Física na Universidade de Illinois.

O impressionante desempenho nas águas levou o nome de Maria Lenk ao Hall Internacional da Fama de Natação, que fica em Fort Lauderdale (Flórida-EUA). O curador do Swimming Hall of Fame, Bob Duenkel, avalia que a presença dela nos Jogos Olímpicos de 1932, em Los Angeles, estimulou outras mulheres a mergulharem na carreira esportiva. Vale destacar que ela foi a primeira atleta da história a usar a técnica de recuperação da braçada por fora da água durante o nado peito, que depois viria a ser oficializado como nado borboleta.

A atleta também se destacou como educadora na Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil (atual UFRJ) e teve dois filhos com o engenheiro Gilberto Ziegler, que também nadava. Ela fazia questão de transmitir a seus familiares não só o amor pelo esporte, mas também a importância da independência e determinação. No documentário “Maria Lenk – a essência do espírito olímpico”, a neta Andrea Zigler lembra do conselho da avó na última conversa que tiveram. “Ela disse: escute bem, Andrea. Você pode ter quantos namorados quiser. Mas tenha a sua própria carreira e a sua própria conta bancária, e você sempre poderá contar consigo mesma, não importa o que aconteça”, lembra a neta. Um conselho que vale para todas as garotas, né?

Maria Lenk amava nadar. “Ela só não tinha escamas porque a evolução se dá muito lentamente no processo evolutivo, senão ela teria escamas e guelras”, brinca o sobrinho Francisco da Silva Júnior, no mesmo filme sobre a atleta. Em 16 de abril de 2007, a nadadora faleceu após uma parada cardiorrespiratória, enquanto se preparava para mais uma competição. Ela estava com 92 anos.

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