Quem nunca ouviu falar em Dragão do Mar pode achar que se trata de algum ser mítico que assombrou o litoral nordestino. E, de certa forma, não está errado: o valente jangadeiro Chico da Matilde espantou o Brasil com sua coragem ao lutar pelo fim da escravidão no Ceará.
Nascido em 15 de abril de 1839 em Canoa Quebrada, vilarejo de Aracati/CE, Francisco José do Nascimento era mestiço, filho de pescadores e neto de escravizados. Aos oito anos, perdeu o pai. Preocupada com o sustento da família, a mãe passou a levá-lo ao porto de Fortaleza para que aprendesse uma profissão. Foi lá que o menino cresceu, virou jangadeiro dos bons e ficou conhecido como Chico da Matilde (o nome de sua mãe).
Luta pela liberdade
Entre 1877 e 1879, a província do Ceará atravessou uma seca muito severa. Fome e doença dizimaram ¼ da população. Sem ter mais como manter os trabalhadores escravizados, os senhores de terras começaram a vendê-los para as províncias ao Sul. E como eles eram transportados até lá? De navio. Foi aí que começou a participação decisiva de Chico da Matilde na abolição da escravidão.
Junto com outros trabalhadores do porto, ele cruzou os braços – ninguém movia uma palha para embarcar negros escravizados. Após a quarta paralisação, em 1881, esta comandada pelo próprio Chico, o porto de Fortaleza foi declarado oficialmente fechado para o tráfico interprovincial.
Liderar esse movimento já seria muito importante. Mas Chico foi além: junto com o negro liberto José Luís Napoleão, seu grande amigo, ele ajudou na fuga de escravizados e juntou dinheiro para comprar a liberdade de muitos outros. Seu carisma e coragem eram empolgantes, e o abolicionismo cearense só crescia.
Por fim, em 25 de março de 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea, o Ceará tornou-se a primeira província brasileira a abolir a escravidão.
Chico da Matilde morreu em 1914, aos 75 anos.
Herói da Pátria
Por sua luta contra a escravidão, Francisco José do Nascimento foi nomeado Herói da Pátria em 18 de julho de 2017.
Mas e a alcunha “Dragão do Mar”? Em 1884, o movimento abolicionista trouxe Francisco ao Rio de Janeiro para homenageá-lo. Os jornalistas da época fizeram muitas matérias a seu respeito, exaltando sua bravura e chamando-o de Dragão do Mar. O apelido entrou para a história!
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