Ela desafiou barreiras sociais e raciais para seguir seu sonho e se tornou uma das maiores atrizes brasileiras. Ruth de Souza nasceu em 12 de maio de 1921, no Rio de Janeiro, e colecionou grandes conquistas ao longo de seus 98 anos, vividos de forma intensa e combativa.
Bem pequena, a carioca foi morar no sítio de seu pai, Sebastião Joaquim Sousa, em Minas Gerais, com a mãe, Alaíde Pinto de Souza, e seus dois irmãos mais novos, Maria e Antônio. Quando tinha apenas nove anos, seu pai morreu e a família voltou para o Rio.
Nessa época, dona Alaíde trabalhava como lavadeira e, sempre que podia, levava a filha para assistir a espetáculos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Além de herdar da mãe o amor por música e teatro, Ruth também desenvolveu uma grande paixão pelo cinema. Nascia ali o sonho de se tornar atriz.
Racismo
Mas a jovem Ruth teria um imenso desafio: enfrentar o racismo, que era ainda mais cruel do que nos dias atuais. Para se ter uma ideia, não havia atores ou atrizes negros na época, e ela se cansou de escutar que nunca alcançaria seu objetivo por causa da cor de sua pele.
A brava sonhadora, no entanto, não se deixava abalar. E ainda contava com o valoroso apoio da mãe, que encomendava às costureiras conhecidas vestidos para que a filha se vestisse como as grandes artistas dos Estados Unidos na época.
Em 1944, Ruth conheceu o recém-criado Teatro Experimental do Negro, idealizado pelo ator e economista Abdias Nascimento para valorizar a cultura, a identidade e artistas negros e negras. Ruth logo entrou para a companhia teatral e, no ano seguinte, estreou no primeiro espetáculo do grupo, O Imperador Jones, de Eugênio O’Neill, no mesmo Teatro Municipal que frequentara com sua mãe. Foi um feito e tanto! Até então, nenhuma atriz negra tinha pisado naquele palco.
Reconhecimento
Não demorou muito para seu grande talento ser reconhecido. Além de atuar em dezenas de espetáculos teatrais, Ruth de Souza deixou sua marca no cinema nacional. Estreou nas telonas em 1948, com Terra Violenta, e participou de outros 36 filmes ao longo de sua vida. Ficou conhecida em todo o País e no exterior devido à sua participação em mais de 40 produções televisivas.
Ruth de Souza foi a primeira protagonista negra de uma novela brasileira, A Cabana do Pai Tomás (TV Globo, 1969). Mas o racismo nunca deu trégua. Apesar de ter o papel principal, o nome de Ruth não constava nos créditos iniciais de abertura. “Tiveram que colocar meu nome depois dos demais atores, o que foi uma comprovação do preconceito que a gente sofre. A minha luta eterna é para ter meu nome creditado em meus trabalhos”, revelou a atriz na biografia Ruth de Souza, A Estrela Negra.
A carreira de Ruth foi marcada pela construção de personagens complexas, que lhe renderam diversos prêmios e homenagens. Ela foi a primeira atriz brasileira indicada a um prêmio internacional. Em 1953, por muito pouco não ganhou o Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza, um dos mais prestigiados do mundo, por sua atuação em Sinhá Moça. Em 2019, aos 97 anos, foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, com o samba-enredo Ruth de Souza – senhora liberdade, abre as asas sobre nós.
Ruth de Souza morreu em julho daquele ano, entrando para a história como a primeira artista negra a conquistar projeção na dramaturgia brasileira. Essa grande dama das artes abriu caminhos para as futuras gerações de atrizes e atores negros e semeou a trilha para mais diversidade no meio artístico.
No dia 12 de maio de 2021, data do centésimo ano de seu nascimento, o Google homenageou Ruth de Souza com um lindo doodle. Mais uma prova da sua trajetória incrível, que merece ser conhecida e compartilhada pelas novas gerações. Como cantado com alegria pela Acadêmicos de Santa Cruz: “Talento é dom pra vencer, Preconceito não pôde calar, Foi preciso acreditar, Menina mostra a força da mulher, O negro pode ser o que quiser”.
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