Protagonismo negro na luta pela abolição

A Lei Áurea foi aprovada na Câmara e no Senado e sancionada pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888. O processo que levou ao fim da escravidão, no entanto, começou bem antes, ainda no século XVI, e contou com o protagonismo dos negros que lutavam por sua liberdade.

Foram muitos anos de rebeliões, como a revolta dos Malês, deflagrada em 1835, em Salvador (BA), e também de mobilizações que usavam os jornais, manifestações artísticas e outros meios de expressão para defender a liberdade e a garantia dos direitos dos escravizados. Apesar disso, o Brasil foi o último país da América a acabar definitivamente com a escravidão. Tendo como base o argumento de risco de colapso da economia, muito dependente do trabalho escravo, prevaleceu uma abolição gradual. Primeiro, aprovou-se o fim do tráfico; 19 anos depois, o fim definitivo do tráfico; após mais 21 anos, a liberdade das crianças; passados outros 14 anos, a dos idosos.

Quatro anos antes de a escravidão chegar ao fim no País, os estados do Ceará e Amazonas anteciparam a decisão e se tornaram territórios livres, para onde muitos fugiam. Um dos articuladores do projeto dos territórios livres foi José do Patrocínio, jornalista, filho de uma escrava alforriada. Usou o jornal Gazeta da Tarde, do qual era dono, para dar início à campanha abolicionista.

Além de Patrocínio, José Ferreira de Menezes, Luiz Gama e o escritor Machado de Assis destacaram-se no processo de abolição no Rio de Janeiro e São Paulo. Outros intelectuais negros, como Ignácio de Araújo Lima, Arthur Carlos e Theophilo Dias de Castro, também lideraram jornais ou manifestações artísticas em defesa da libertação dos negros.

Arte e abolicionismo

Um episódio curioso do ano de 1886 aconteceu durante uma apresentação da ópera Aída, com a cantora russa Nadina Bulicioff, que se exibia no País a convite de Dom Pedro II. Durante a cena de libertação da personagem Aída, o abolicionista José do Patrocínio subiu ao palco com seis mulheres escravizadas. Neste momento, a cantora entregou cartas de liberdade verdadeiras para elas, que se tornaram livres naquele momento.

Tudo tinha sido previamente combinado, pois Nadina tinha ficado horrorizada com a escravidão e doou uma joia para comprar cartas de liberdade. José do Patrocínio foi quem ajudou a colocar o plano em prática.

Mulheres abolicionistas

Entre as associações abolicionistas que se multiplicavam na época, havia sociedades formadas apenas por mulheres. Nascida em 1826, Maria Tomásia Figueira Lima Filha, de Sobral, no Ceará, foi uma das fundadoras e a primeira presidente da Sociedade das Cearenses Libertadoras. Ela teve um papel importante no movimento que levou seu estado a abolir a escravidão quatro anos antes da Lei Áurea.

Adelina, a charuteira espiã, nasceu em 1859 e foi uma escrava abolicionista. Com o seu trabalho de vender charutos pela cidade de São Luís, no Maranhão, construiu uma importante teia de relacionamentos. Aproveitou-se disso para trabalhar em prol da libertação dos escravizados, tendo contribuído com uma associação de estudantes que ajudava na libertação e figa deles – o Clube dos Mortos.

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