Catulo da Paixão Cearense

Ilustração. O fundo mostra uma paisagem com árvores secas e cactos e alguns textos escritos em letra cursiva, tudo em tons de amarelo. No centro da imagem, um homem branco, calvo, de óculos redondos e expressão séria veste terno cinza escuro e gravata preta. Ele segura um violão como quem toca.

“Não há, ó gente, ó não, lugar como este do sertão…” Certamente você já ouviu a bela música Luar do Sertão, de 1908, do cancioneiro popular nacional. Mas você sabe quem é o autor dessa letra tão bonita que encanta gerações? Catulo da Paixão Cearense, um poeta, teatrólogo, músico, compositor e cantor brasileiro.

O próprio poeta explica sua origem: “Escute / Eu sou o Catulo / E Catulo da Paixão / Sou cearense no nome / Mas nasci no Maranhão”. É isso aí. Ao contrário do que parece, Catulo nasceu em São Luís do Maranhão, e não no Ceará, no dia 8 de outubro de 1863. Ele chegou a morar alguns anos no sertão cearense, tendo passado por muitas dificuldades com a família por lá.

Em 1880, Catulo se mudou para o Rio de Janeiro, onde passou a maior parte da vida.

A vida de Catulo na capital fluminense

Quando morou no Rio de Janeiro, Catulo frequentou repúblicas de estudantes e conheceu alguns músicos importantes, como Viriato, Anacleto de Medeiros, Quincas Laranjeiras e Cadete. Eles tocavam um gênero musical chamado chorinho. Ali, o jovem aprendeu a tocar violão e flauta. Com a morte dos pais, no final da década de 1880, teve de trabalhar duro para sobreviver. Ele era bem forte e trabalhou até como estivador no porto.

O jovem estudou português, matemática e francês, chegando a traduzir poetas franceses famosos. Depois, fundou um colégio e passou a dar aulas de línguas. Ele fez muitos amigos na cidade e curtiu bastante a noite boêmia do Rio, frequentando bares e fazendo serenatas e recitais.

Um livreiro da cidade o ajudou a editar em folhetos de cordel um grande repertório de músicas como modinhas, lundus e cançonetas da época. Catulo organizou várias coletâneas importantes de música, como O Cantor Fluminense e O Cancioneiro Popular. Depois, publicou suas próprias obras musicais, como Lira dos Salões, Novos Cantares, Lira Brasileira, Canções da Madrugada, Trovas e canções e Choros ao Violão. Também foi ele quem reintroduziu o violão nos salões da alta sociedade.

Ele escreveu, ainda, 15 livros de poemas, como Meu Sertão (1918), Alma do Sertão (1928) e Poemas Escolhidos (1944).

Versos cantados pelo Brasil afora

Catulo foi poeta antes de tudo, mas também cantava muito bem os poemas que adaptava à melodia de obras dos mais famosos compositores populares da época, como Chiquinha Gonzaga, Antônio Callado e Pedro Alcântara. Por meio de gravações feitas por cantores famosos da época, as modinhas com seus versos espalharam-se pelo País inteiro.

A inspiração maior para sua obra veio do período da sua infância em que passou no Nordeste, com condições de vida muito difíceis. Os versos bem brasileiros de Catulo tocam a alma do povo.

Poeta muito amado

Catulo da Paixão Cearense foi um dos poucos poetas populares no Brasil que, em vida, recebeu todas as honras e foi adorado pelo povo. Isso porque ele usou e abusou de toda a sonoridade do sotaque nordestino e soube transmitir, em versos simples, a cultura e o dia a dia dos sertanejos. Seus poemas e as letras de suas músicas cativaram a sensibilidade das pessoas.

Seu talento também ganhou o coração de intelectuais e autoridades nacionais. O famoso escritor modernista Mário de Andrade chegou a classificá-lo como “o maior criador de imagens da poesia brasileira”. E em 1914, o então presidente da República, marechal Hermes da Fonseca, convidou-o para ir ao palácio do Catete cantar suas modas. Lá, Catulo foi aplaudido de pé por muita gente poderosa.

Enterro ao som de Luar do Sertão

Mesmo tendo feito tanto sucesso, Catulo morreu pobre, aos 83 anos, em 10 de maio de 1946. Em depoimento à publicação História da MPB, da Editora Abril, seu amigo Carlos Maul contou que, no enterro do poeta, uma lua imensa começou a luzir no céu e, espontaneamente, o tenor Alfonso Tirado começou a cantarolar Luar do Sertão. Em pouco tempo, milhares de vozes se juntaram a ele.

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