Clarice Lispector

Você sabia que Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras, não nasceu no Brasil? Nasceu na Ucrânia, em 10 de dezembro de 1920, e seu nome de batismo era Haia. Ela escreveu livros maravilhosos (e bem complicadinhos, na opinião de muitos leitores), entre eles: Felicidade clandestina, A paixão segundo G.H. e A hora da estrela.

De Haia a Clarice

Haia Lispector desembarcou no Brasil com os pais e as duas irmãs aos dois anos de idade, e logo foi rebatizada com o nome que carregaria pelo resto da vida: Clarice.

Ela aprendeu a ler aos sete anos, na 1ª série do curso primário no Grupo Escolar João Barbalho, em Recife/PE. As lembranças da escola e da infância modesta na capital pernambucana serviriam de inspiração para os contos “As grandes punições”, “Cem anos de perdão”, “Banho de mar” e “Restos de carnaval”, escritos já na idade adulta.

Autora precoce, leitora voraz

Desde muito jovem, Clarice revelava seu amor pelas letras. Em 1930, após assistir a um espetáculo teatral, a pequena autora com apenas 10 anos escreveu “Pobre menina rica”, uma peça em três atos! Os manuscritos infelizmente se perderam.

A jovem escritora não desistiu de tornar seus textos conhecidos. Aos 11 anos, ela enviou vários contos à seção infantil do Diário de Pernambuco, mas nada foi publicado. O motivo do insucesso, segundo ela, era um só: desde cedo, suas histórias falavam de sensações, não de fatos.

Em 1932, teve seu primeiro contato com as obras de Monteiro Lobato. Ela gostou tanto que relatou em seu conto “Felicidade Clandestina”, ocasião em que conseguiu emprestado, após muita insistência, o livro Reinações de Narizinho.

Escrever para viver, viver para escrever

Em 1935, Clarice, o pai e as irmãs se mudaram para o Rio de Janeiro (a mãe havia falecido em Recife, cinco anos antes). Três anos mais tarde, enquanto terminava o equivalente ao ensino médio, ela começou a trabalhar como professora particular de português e matemática. É por isso que a relação professor/aluno é um dos temas preferidos e mais frequentes em sua obra.

Em 1939, ela ingressou na Faculdade Nacional de Direito – não por gosto, mas para conseguir um emprego fixo – e, assim, poder se dedicar aos seus escritos. Por lá, conheceu o estudante Maury Gurgel Valente, futuro diplomata, com quem se casaria quatro anos mais tarde.

Clarice continuava lendo muito e escrevendo mais ainda, vez ou outra publicando seus escritos em jornais e semanários. Trabalhava como secretária em um escritório de advocacia e fazia traduções de artigos científicos, mas isso não a fazia feliz. Então, em 1940, foi contratada como redatora na Agência Nacional. Começou aí sua relação com o jornalismo.

Amizades letradas

Ao longo de sua vida, Clarice Lispector teve como amigos próximos alguns dos maiores nomes da literatura brasileira: Antonio Callado, Érico Veríssimo, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, por exemplo. Eles trocavam muitas cartas, conversavam sobre as obras que estavam lendo, faziam a primeira leitura dos livros uns dos outros.

Cidadã do mundo

Durante os 15 anos em que permaneceu casada com Maury Gurgel Valente, Clarice viajou o mundo para acompanhar o marido. Primeiro, morou em Nápoles, na Itália. Enquanto estava lá, teve seu primeiro romance publicado no Brasil: Perto do coração selvagem. Sobre esta obra, aliás, Clarice conta que foi um romance que a ‘perseguiu’ – isto porque as ideias surgiam a qualquer hora, em qualquer lugar, e ela as anotava no primeiro pedaço de papel que visse pela frente. Ainda na Itália, escreveu O Lustre, que foi publicado quando voltaram ao Brasil, em 1946.

Clarice e o marido também moraram na Suíça, onde tiveram o primeiro filho, na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde nasceu o filho caçula. Mas o coração da autora era do Brasil, e ela sentia muitas saudades das irmãs, dos amigos e da vida no Rio de Janeiro.

Ela voltou a residir definitivamente no País em 1959, junto com seus filhos, quando se separou do marido.

Um acidente que deixou marcas profundas

Em 1966, um terrível acidente mudou para sempre a vida da escritora. Ela, que era fumante, adormeceu com um cigarro aceso nas mãos. Foi o suficiente para causar um grande incêndio, que destruiu seu quarto e causou queimaduras muito graves do lado direito de seu corpo – em especial, na perna e na mão, que por pouco não precisou ser amputada. A recuperação foi boa, mas não total – a autora perdeu parte dos movimentos da mão, e passou a ter muita dificuldade de escrever. À época, Clarice ficou muito deprimida.

Vida breve, obra imortal

Clarice faleceu em 1977, um dia antes de completar 57 anos. Deixou dois filhos e uma vasta obra literária composta de romances, novelas, contos e crônicas. Aliás, sabia que ela também escreveu para crianças? O primeiro de seus livros infantis foi O mistério do coelhinho pensante, que ela criou para o filho caçula. Para o mais velho, escreveu A mulher que matou os peixes, relembrando um triste incidente – durante uma viagem de férias do filho, ela se esqueceu de alimentar seus peixinhos de estimação, deixando-os morrer. Também são dela A vida íntima de Laura e Quase de verdade.

Com informações dos sites do Instituto Moreira Salles, da TV Cultura, Releituras e Vidas Lusófonas.

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