Joaquim Cardozo, o poeta dos cálculos

Ilustração. O fundo é amarelado com traços que parecem feitos a lápis. No centro, sentado numa poltrona marrom, está um senhor com cabelos grisalhos nas laterais da cabeça, olhos castanhos, expressão séria eom algumas rugas embaixo dos olhos e em volta dos lábios finos e fechados. Ele veste uma camisa de manga comprida com listras em tons de amarelo e calça azul.

Um nome fundamental na construção de Brasília é Joaquim Cardozo. Ele foi o engenheiro responsável pelos projetos estruturais de obras desafiadoras! Sem ele, a capital federal ficaria sem cartões-postais tão importantes quanto a Catedral Metropolitana, o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, a Igrejinha e o Palácio da Alvorada.

Seus métodos de cálculo revolucionaram o uso do concreto armado em todo o mundo. Quebrando regras da Engenharia, que estabeleciam o uso de no máximo 6% de barras de ferro em estruturas de concreto, ele ousou. Nas colunas do Palácio da Alvorada, por exemplo, previu 20% de ferro, para alcançar a ideia de leveza da construção.

Mas a imaginação de Joaquim Cardozo não ficava apenas nos projetos e cálculos. O pernambucano também foi poeta, contista, dramaturgo, ilustrador, crítico de arte e tradutor: ele conhecia oito idiomas! Segundo Oscar Niemeyer, Cardozo era “o brasileiro mais culto que existia”. Quando questionavam sua habilidade em campos tão distintos, como letras e cálculos, ele dizia: “Não visualizo qualquer incompatibilidade entre poesia e arquitetura. As estruturas planejadas pelos arquitetos modernos são verdadeiras poesias. Trabalhar para que se realizem esses projetos é concretizar uma poesia”.

Mas uma tragédia profissional marcou para sempre sua vida. Em 1971, o Pavilhão da Gameleira, em Belo Horizonte, desabou no fim da construção, matando 69 operários, e ferindo outros 100. A obra era assinada por Niemeyer e Cardozo. A perícia detectou que o erro não foi no cálculo, e sim na execução da obra por parte da empreiteira. Mesmo absolvido, Joaquim Cardozo ficou extremamente abalado depois do acidente, encerrou sua carreira de calculista e entrou em depressão.

Membro da Academia Pernambucana de Letras, o engenheiro tinha uma biblioteca invejável, com aproximadamente 7.500 títulos, que foram doados à Universidade Federal de Pernambuco. Joaquim Cardozo morreu em Olinda (PE), em 1978, aos 81 anos.

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