Djanira e as cores do Brasil

“Dja”, como era chamada pelos amigos, ou “Nira”, como falava seu papagaio, foi uma das maiores pintoras brasileiras. Djanira da Motta e Silva nasceu em Avaré (SP) em 1914 e teve uma infância turbulenta. Seus pais se separaram quando ela era pequena. Ela ficou com o pai, mas como ele viajava muito, foi criada por uma família de amigos em Porto União (SC). Djanira se sentia muito sozinha e, aos 14 anos, sua avó materna a levou de volta para o interior paulista, onde morou na fazenda de uma tia, ajudava nas tarefas domésticas e até mesmo na colheita de café.

Aos 17 anos, resolveu ir para São Paulo. Na capital, foi vendedora, cozinheira, costureira e até chapeleira. Trabalhava muito, se alimentava mal e não tinha tempo de se cuidar. O resultado foi uma tuberculose, doença que afeta os pulmões e que naquela época era de difícil tratamento. Djanira se internou em São José dos Campos (SP) e foi lá que, aos 23 anos, começou a desenhar. Foi o começo da carreira de uma das grandes artistas do Modernismo.

Dois anos depois, mudou-se para o Rio de Janeiro. Djanira voltou a costurar, abriu uma pensão no bairro de Santa Teresa, e nas paredes de lá exibia os desenhos que fazia. Ao encomendar um vestido, uma cliente se surpreendeu com aqueles trabalhos. No dia seguinte, levou um amigo pintor – o romeno Emeric Marcier – para ver os desenhos. Ele também adorou o que viu e fez um acordo com Djanira: ele lhe daria aulas de pintura em troca de hospedagem na pensão. E foi assim que Djanira ficou íntima das tintas, telas e pincéis.

Cada vez mais ela convivia com artistas. Aos 28 anos, estreou em uma exposição coletiva no Salão Nacional de Belas-Artes e, no ano seguinte, fez sua primeira individual. Em 1943, seu trabalho começou a ganhar o mundo: participou de exposições na Inglaterra, Argentina, Uruguai e Chile. Morou nos Estados Unidos entre 1944 e 1947, onde também exibiu seu trabalho.

Ao voltar ao Brasil, conheceu o poeta e historiador José Shaw da Motta e Silva, com quem se casou. Viajou pelo País para pesquisar e se inspirar sobre seus temas favoritos: o cotidiano dos trabalhadores, festas populares e cenas religiosas.

Além das telas, Djanira trabalhou com xilogravura, gravura em metal, cartazes e cenários. Também fez desenhos para tapeçaria e azulejaria. Ela produziu intensamente ao longo de sua vida, deixando centenas de obras – boa parte delas abrigadas no Museu Nacional de Belas-Artes.

Djanira vivia cercada por plantas e bichos: pássaros, cachorros, marrecos e porcos. Ela morreu em 1979. O amigo e escritor Jorge Amado destacou a forte ligação entre Djanira com as cores, paisagens, perfumes e sentimentos do Brasil. “Sendo uma das grandes pintoras de nossa terra, ela é mais do que isso, é a própria terra, o chão onde crescem as plantações, o terreiro da macumba, as máquinas de fiação, o homem resistindo à miséria. Cada uma de suas telas é um pouco do Brasil”.

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