Dicas para educadores

 

Para Juliana Santana, os educadores precisam estar dispostos a desconstruir seus próprios preconceitos ao levar o tema “povos indígenas” para a sala de aula. “É necessário aprender a história do indígena no Brasil, compreender o processo de luta desse povo, a miscigenação. E que não existem falsos índios, porque o indígena pode ter olhos azuis, pele branca, cabelo cacheado. Ele não precisa ser reconhecido pelo não-indígena para ser indígena. Ele precisa ser reconhecido pelo povo dele. Saber, cultuar e fortalecer a ciência e as vivências do seu povo, militar para que a terra, o território sagrado seja preservado e cuidado. Ser indígena é muito mais do que o fenótipo dado nos livros didáticos. Ser indígena é aquele que luta há mais de 520 anos para resistir dentro de seus territórios desde a invasão dos portugueses”, pontua.

A educadora indígena insiste sobre a importância de se questionar os materiais didáticos disponíveis nas escolas de educação básica. Em sua maioria, eles trazem indígenas com fenótipos únicos (cabelos pretos, lisos, olhos puxados), baseados em alguns povos amazônicos – que também são diversos. “O que se sabe sobre ser indígena é muito pouco, não se tem bagagem suficiente para conhecer cada cultura, cada tradição, cada especificidade desses 305 povos que sobreviveram e resistiram até os dias atuais”, lamenta.

Juliana Santana também considera fundamental abordar a expulsão dos indígenas de seus territórios e o impacto disso sobre seu modo tradicional de vida. “Viemos de um contexto de escravização, tivemos um período de imperialismo, ditadura militar, coronelismo. Todos esses processos históricos influenciaram para que a gente saísse dos nossos territórios. Como forma de sobrevivência e resistência, muitos indígenas tiveram que se adaptar a outra cultura, à cultura do outro”.

A miscigenação é outro ponto indicado pela educadora. “É necessário falar sobre o que ocorreu, principalmente no Nordeste. Que os alunos compreendam que após a invasão dos colonizadores os primeiros a sofrerem com esse contato foram os povos indígenas do Nordeste, por isso muitos não têm seus territórios, porque com a colonização vinha junto a exploração dos recursos naturais. E a consequência foi a retirada dos povos indígenas dos seus territórios, tentando sempre integrar o indígena à sociedade de forma que abandonasse sua cultura e tradições, deixasse de falar sua língua materna. É necessário entender o porquê de hoje os índios no Nordeste não falarem sua língua, às vezes terem olhos azuis, pele clara, cabelo encaracolado, não terem os mesmos fenótipos dos povos amazônicos. Não somos povos amazônicos. É preciso entender a diversidade de culturas e fenótipos entre os povos indígenas no Brasil”, considera.

Ela resume algumas dicas para os educadores:

  • trabalhar com a literatura produzida pelos próprios indígenas;
  • pesquisar vídeos de lideranças indígenas relatando as histórias do seu povo;
  • olhar os livros didáticos tradicionais de forma crítica, apontando estereótipos e reducionismos que eventualmente estejam lá;
  • levar os estudantes para conhecerem comunidades indígenas próximas;
  • questionar se os europeus ainda se vestem e se comportam como em 1500, fazendo uma inversão sobre um questionamento comum aos povos indígenas;
  • entender e trabalhar a diversidade dos povos indígenas.
Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

Comente!

Seu endereço de email não vai ser publicado. Campos marcados com * são exigidos