Conversando com crianças e jovens sobre a Semana de Arte Moderna

As manifestações artísticas costumam retratar a sociedade e suas inquietações. Por isso, conhecer os percursos da nossa arte, refletir sobre os artistas e suas obras permite ampliar o repertório visual, histórico, cultural, crítico e social dos(as) estudantes, ajudando-os(as) a enxergar melhor o nosso mundo e as nossas origens.

Então que tal aproveitar para conversar sobre a Semana de Arte Moderna? Será que eles(as) sabem que os eventos de fevereiro de 1922 mudaram para sempre o fazer artístico brasileiro?

A Semana

A Semana de Arte Moderna aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Durante esses três dias aconteceram concertos musicais, recitais de poesia e palestras. A exposição de pinturas, esculturas e arquitetura, composta de uma centena de peças de quatorze artistas diferentes, pôde ser visitada toda a semana.

Esse evento representou um marco no movimento modernista brasileiro e foi um momento importantíssimo para a formação da identidade cultural brasileira. Mas ele não foi um acontecimento isolado. Antes de 1922, artistas em diferentes estados brasileiros já discutiam e buscavam uma linguagem mais de acordo com o seu tempo, em que experiências fossem permitidas, assim como acontecia nas vanguardas europeias.

Recife, por exemplo, dividiu com São Paulo a primazia de nossa modernidade artística. Em 1920, Vicente do Rêgo Monteiro realizou uma exposição, que também foi exibida no Rio de Janeiro. A cultura modernista pernambucana propunha uma ruptura com o parnasianismo e defendia o regionalismo.

Os debates de ideias e concepções estéticas desencadeados na época também se prolongaram pelas décadas seguintes e marcaram todos os aspectos da cultura brasileira, em especial a literatura, a arte e a música.

Para começo de conversa:

Pergunte aos/às estudantes o que entendem dos termos moderno, modernidade e modernismo. Essa é uma boa oportunidade para bater um papo com eles(as) e esclarecer a diferença entre o senso comum e o que propunha o movimento artístico.

Em seguida, peça que digam os nomes de artistas brasileiros do começo do século passado. É bem provável que a maioria mencionada seja da música ou da literatura. Alguém fez parte do movimento modernista?

Depois, convide a turma para ler sobre a Semana de Arte Moderna. Isso pode acontecer num segundo momento, numa outra aula. Aqui deixamos uma dica de post sobre o assunto. Ao final da leitura, peça para que comparem as informações do texto com aquilo que já sabiam sobre o modernismo e os artistas.

Para ir além:

Leia para a turma os seguintes fragmentos.

“Inaugura-se hoje no Municipal a Semana de Arte Moderna. Esperemos o veredicto do público de São Paulo. Ele travará conhecimento com o que há de mais avançado no mundo em escultura, pintura e arquitetura (…) Nós, pelo acolhimento da plateia de hoje, julgaremos da cultura de nosso povo. Pois sabemos, com Jean Cocteau, que quando uma obra de arte parece avançada sobre seu tempo, ele ‘ que de fato anda atrasado.” Trecho do Texto de Oswald de Andrade em Jornal do Commercio, São Paulo, 13 de fevereiro de 1922, p.4.

“O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil, e como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a imaginação tudo promete uma admirável ‘florada’ artística.” Graça Aranha- Discurso de Abertura da Semana de Arte Moderna no Saguão do Teatro Municipal de São Paulo em 13 de fevereiro de 1922

É importante comentar, a partir destas leituras, que, como os próprios participantes afirmavam, o que se passou no Teatro Municipal foi revolucionário para a produção nacional. A Europa já estava tomada pelas Vanguardas que se mostravam muito além do que acontecia aqui. A forte influência desses movimentos internacionais, no entanto, não diminuía o sentimento nacionalista que era uma das fontes de inspiração para a autonomia artística e para a nova e autêntica forma de expressão que os modernistas queriam construir. Era a busca pelo “pintar em brasileiro”, como recomendou Mário de Andrade a Tarsila do Amaral, quando ela estava em Paris.

O que veio depois da Semana

Assim como previsto pelos artistas participantes, foram muitas e intensas as críticas feitas à Semana. Algumas foram duríssimas, mas ao mesmo tempo possibilitaram a futura reverberação do movimento.

Para entender melhor:

Nos trechos a seguir, fica clara a intenção de chocar. As vaias estavam previstas e conquistá-las significou alcançar a meta desejada.

“Mais vale dois a sentir, que a multidão aplaudir.” Mário de Andrade em “Jornal de Debates” de 1921

“O movimento, se alastrando aos poucos, já se tornara uma espécie de escândalo público permanente.” Mário de Andrade – Conferência intitulada Movimento Modernista, lida no Salão de Conferências da Biblioteca do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no Rio de Janeiro, 1942

“Os bravos rapazes que acabam de escandalizar a Paulicéia, oferecendo-lhes mostras de quanto são capazes os seus talentos desvairados, representam todas as modalidades da nova estética.” Artigo publicado em A Cigarra, São Paulo, 15 de fevereiro de 1922.

“Acredito que estejam satisfeitíssimos os organizadores dessa desopilante hebdômada precursora do Carnaval, visto como, indiscutivelmente, conseguiram realizar a melhor parte do seu programa: fazer barulho, provocando o maior escândalo em nosso meio.” Artigo publicado no Jornal do Comércio, São Paulo, 18 de fevereiro de 1922.

“Este movimento, pois, é uma manifestação de mais desabusada improbidade artística de que há memória, um verdadeiro estelionato, praticado por sujeitos que, simples aprendizes desastrados, reles imitadores ou descovados plagiadores, pretendem intrujar o público dizendo-se gênios autênticos, originais, livres e pessoais.” Artigo publicado em A Gazeta, São Paulo, 22 de fevereiro de 1922.

“Em música são ridículos; na poesia são malucos e na pintura são borradores de tela.” Artigo publicado no Jornal do Comércio, São Paulo, 22 de fevereiro de 1922.

“Surgem sobre tal acontecimento as mais desencontradas opiniões, transparecendo, contudo, de todas elas, o extremo ridículo em que caíram os promotores desta festa.” Vida Paulista, São Paulo, n.11, 1 de março de 1922.

Os efeitos nas décadas seguintes

Depois da Semana de 22, surgiram muitos outros artistas que, ao se comunicarem com o grupo de São Paulo, foram consolidando o movimento, que se transformou em fenômeno nacional.

Uma forma de entender melhor o que aconteceu é convidar os estudantes para se familiarizarem com as ideias dos textos de manifestos que foram redigidos nos anos seguintes. Oswald de Andrade e os primitivistas redigiram o chamado Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), que defendia a autonomia da arte brasileira. A radicalização do primitivismo do grupo Pau-Brasil, por sua vez, gerou o Manifesto Antropófago ou Antropofágico (1928). O termo foi escolhido em referência a uma antiga prática indígena em que se devorava o inimigo para, assim, absorver tudo o que ele tinha de valioso. Na arte, a ideia era mastigar todas as influências estrangeiras para incorporá-las às nossas questões.

Para ir além:

Ler e comentar com os(as) estudantes os desdobramentos a seguir:

– A Revista Klaxon: mensário de arte moderna foi o primeiro periódico dedicado ao desenvolvimento das ideias da Semana e foi um desdobramento direto dela. Guilherme de Almeida, Sérgio Milliet, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Luis Aranha e Rubens Borba de Moraes foram os idealizadores nas nove edições, entre os anos de 1922 e 1923.

– O Movimento Verde-Amarelo (Verde-Amarelismo) foi uma resposta ao nacionalismo defendido por Oswald de Andrade e foi uma corrente mais conservadora do modernismo. Em 1929, o grupo publicou o Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo e teve como seus principais intelectuais Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, Cândido Motta Filho e Alfredo Élis. O movimento também foi chamado de Anta por pregar este animal como símbolo nacional.

– O Manifesto Regionalista, além de estar em consonância com as ideias modernistas de fortalecimento da cultura nacional, tinha por objetivo ressaltar a cultura nordestina. A edição da revista Era Nova foi importante neste processo e contava com a participação de nomes como Graciliano Ramos, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral de Melo Neto.

– A Sociedade Pró-Arte Moderna (Spam) foi fundada em 1932 na cidade de São Paulo, com o objetivo de promover manifestações artísticas de várias áreas. Era a união de artistas afinados às ideias modernistas, como Mário de Andrade, Gregori Warchavchik, Anita Malfatti, Paulo Prado, Lasar Segall, Camargo Guarnieri, Hugo Adami, Mina Klabin Warchavichik, Rossi Ossir, Tarsila do Amaral, John Graz, Vittorio Gobbis, Wasth Rodrigues, Olívia Guedes Penteado, Antonio Gomide, Sérgio Milliet, Menotti del Picchia, Paulo Mendes de Almeida, Jenny Klabin Segall, Alice Rossi, entre outros.

Os principais artistas da Semana de Arte Moderna

Anita Malfatti | Menotti Del Picchia | Mário de Andrade | Oswald de Andrade | Di Cavalcanti | Heitor Villa Lobos

Divida os(as) estudantes em grupos e peça que cada grupo leia sobre um(a) dos(as) participantes do movimento e que os apresentem para a turma.

Em um momento posterior, convide os(as) estudantes a resolver os desafios da nossa Trívia da Semana de Arte Moderna.

Para concluir:

Peça que pesquisem as obras expostas durante a Semana e identifiquem aquelas de que mais gostam.

Em seguida, devem escolher uma questão nacional atual e produzir uma obra coletiva, tendo como inspiração o trabalho dos artistas plásticos modernistas.

Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura "plenarinho.leg.br - Câmara dos Deputados" e não seja para fins político-partidários

9 Comentário(s)

  • by Alexandrina postado 11/02/2022 12:17

    Parabéns.

    • by Turma do Plenarinho postado 11/02/2022 13:21

      Que bom que gostou, Alexandrina! Abraços da Turma!

  • by isabelly postado 03/03/2022 12:58

    na minha escola e particular e isso e de tema q tenho q ve no plenario diretos das criaças no plena e vo colocar u imeio da irma porq no posta o comentario *-* \————~~~~~~~~**-

    • by isabelly postado 03/03/2022 12:59

      ;0

    • by Turma do Plenarinho postado 03/03/2022 14:08

      Oi, Isabelly! Não entendemos bem o que você quis dizer…

  • by guilherme postado 01/08/2022 14:06

    muito legal essa postagem estamos usando ate para um trabalho, parabens.

    • by Turma do Plenarinho postado 01/08/2022 14:13

      Que legal, Guilherme! Se quiser compartilhar com a gente a sua experiência, vamos adorar saber! Nosso e-mail é: plenarinho@camara.leg.br. Abraços da Turma!

  • by Maria Carolina postado 04/11/2022 11:55

    Excelente material! Sou professora de literatura e adorei as sugestões de exercícios para sala de aula. Vocês pretendem publicar sobre outros movimentos literários?

    • by Turma do Plenarinho postado 04/11/2022 14:09

      Bom dia, Maria Carolina! Agradecemos muito os elogios! Não tínhamos pensado em criar material específico para outros movimentos artísticos, mas vamos registrar sua sugestão com carinho. Abraços da Turma!

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